A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 254 / 508

- Na aldeia como na aldeia. Em Lisboa também as minhas alvoradas são mais tardias.

- Tem razão, Sr. conselheiro. Eu próprio não esperei que me acordasse o toque da sineta. Há muito que eu namorava a manhã da janela do meu quarto.

- Eu não pude dormir toda a santa noite - disse D. Doroteia.

- Estranhei a cama e a casa. Eu cá sou assim: quem me tira do ninho!...

- Ó prima, não vá sem resposta - disse D. Vitória - que também eu não pus olho, e mais sou de casa. E por sinal que sempre hei-de querer saber quem foi o criado que lhe deu para andar toda a noite por a quinta. Eram que horas e eu ainda ouvia pés nas escadas de pedra. É verdade: o primo Henrique não ouvia? Era mesmo junto do seu quarto.

- Não, minha senhora; eu não senti rumor.

E, dizendo isto, Henrique procurou os olhares da Morgadinha, que justamente naquela ocasião lhe servia uma chávena de chá e que de novo o fixou sem perturbação nem afectada indiferença.

Henrique sentiu-se embaraçado com isto. Custava um pouco à sua vaidade este nenhum vestígio de ressentimento ou de receio, que encontrava em Madalena.

No entretanto, D. Vitória continuava a comentar com D. Doroteia o facto das passadas que ouvira de noite.

- Deixe-se disso, prima. É porque não sabe o que vai. São coisas destes criados. Não faz ideia! É uma pouca-vergonha! É preciso paciência de santa para os aturar.

- Ângelo - disse a Morgadinha ao irmão -, entretido como estás a conversar com as crianças, esqueces-te de servir a Criste, que também se esquece de se fazer lembrar. Que distracções por aqui vão!

Ângelo reparou para a prima, que em todo aquele tempo estivera calada e caída em uma daquelas abstracções, a que ultimamente era sujeita.

- Eu não sei que tem hoje esta Criste - disse Ângelo.





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