A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 257 / 508

Não há quem sustente mais tremendas lutas do que os tímidos.

A alma revolta-se neles, com toda a violência dos seus instintos, contra não sei que mistério de temperamento, que lhes reprime as expansões. Na aparência é fraqueza e serenidade, mas no íntimo há esforços realizados, que os fortes nem concebem sequer.

Cristina encobria no seu enleio uma destas lutas. Os lábios só puderam responder:

- Na cidade o Inverno é mais fácil de passar, julgo eu; porém, na aldeia...

- Na aldeia e em toda a parte se pode gozar a felicidade que eu imagino. Não é fora das portas de casa que devemos procurar os elementos para instituir a nossa ventura, e por isso... Mas a prima há-de estar admirada de ouvir falar assim um homem que completou os seus vinte e sete anos sem família. Não é verdade? Cristina só pôde sorrir.

- Mas que quer? Quem muito idealiza arrisca-se a morrer apaixonado do ideal e abraçado à pior das realidades. É a consequência legítima e triste do aspirar demasiado. Até hoje tenho encontrado na vida muitas mulheres formosas, amáveis, interessantes; porém nenhuma que satisfizesse às necessidades do meu coração, de quem me afirmasse a consciência poder esperar a realização do meu sonho. Perdoe-me falar-lhe nisto, priminha; é uma ousadia que tomei, porque um instinto me disse que possui no coração bastante bondade para ma perdoar.

- Está a gracejar? - disse Cristina, em quem redobrava a turbação, e que, ao mesmo tempo que estava sendo feliz, desejava ver interrompida a sua felicidade: contradições próprias dos tímidos.

- A prima é muito moça - continuou Henrique, que não desesperava ainda de animar esta Galateia - e talvez por isso lhe causará estranheza este meu modo de falar. Um dia virá, porém, em que o compreenderá melhor.





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