A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 265 / 508

o confesso, não era o melhor, nem científica nem economicamente considerado; eu sabia de mais o que valia para o teu coração o sacrifício que se te vinha exigir; eu mesmo possuo memórias ligadas a estas árvores, e não há homem que, aos cinquenta anos, veja sem repugnância desaparecerem os vestígios dos seus tempos de infância e de juventude; mas sabia também que tu eras uma alma generosa e heróica, e que não duvidarias comprar, à custa das tuas dores e saudades, um melhoramento para esta terra, que tanto amas. Esta estrada, prometida há tanto, e concedida ainda agora de má vontade, corre o risco de se não fazer, se, quanto antes, não principiarem os trabalhos; a menor oposição dos proprietários, o menor embargo dilatório podem ser motivo para o seu adiamento, porventura indefinido. Por isto também me animei, porque contava contigo, Vicente. Enganei-me?

O ervanário estava cada vez mais pensativo.

- Pensaste bem. A velhice é assim; e eu queria dar mais importância a dois anos de vida, que me restam, do que à vida nova que vai haver para esta terra. Fizeste bem.

- Esperava ouvir isso mesmo de ti, Vicente. Além de que, dissipa as apreensões com que estás; em toda a parte terás árvores... O ervanário interrompeu-o:

- Se não entendes o amor que eu tenho por estas, não faças por consolar-me, Manuel, porque me afliges mais.

- Porém, deixa-me dizer-te, Vicente, que no Mosteiro, ou em qualquer das nossas propriedades, tens sempre um lugar vago à tua espera, tanto à mesa, como ao canto do fogão, e amigos que te receberão com prazer.

- Não receio ficar sem abrigo, Manuel. Em cada choupana de pobre teria tecto e pão. Conto com a colheita de algum bem que semeei.

- Eu farei com que o contrato da expropriação seja o mais favorável possível.





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