A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 17: XVII Pág. 268 / 508

conselheiro teve vontade de o esganar; conteve-se, porém, dizendo:

- Tanto melhor: quero-me antes com proprietários ilustrados e independentes, que compreendam a importância dos melhoramentos públicos, do que...

- Isso histórias, meu caro amigo; em primeiro lugar estão os melhoramentos particulares. Eh! eh! eh!

- Decerto que não há-de querer pôr estorvos a uma empresa como esta.

- Estorvos, não, mas enfim... Amigos, amigos, negócios à parte.

O conselheiro sorriu, enquanto que interiormente mandava ao diabo o espírito mercantil e interesseiro do seu antigo condiscípulo:

- Pode-me dar duas palavras, Sr. Conselheiro? - requereu do lado o Sr. Joãozinho das Perdizes.

- Mil que pretenda - acudiu o conselheiro; e, tomando o braço do Morgado, afastou-se do grupo.

- Eu tenho a pedir-lhe um favor - principiou o morgado. - Eu, como sabe, interesso-me muito pelo mestre-escola do Chão do Pereiro, que quer vir ensinar para aqui. Este negócio está empatado, como sabe; por isso queria que o senhor escrevesse para Lisboa a este respeito.

- Pois sim, mas... - fez-lhe notar o conselheiro - não sabe que é Augusto o outro concorrente?

- Então que tem isso?

- Não lhe parece que seria uma injustiça? Um rapaz de merecimento, como ele é, aqui da terra, que já exerce o emprego há três anos e com tanta inteligência! E havíamos de...

- É verdade, - atalhou o outro - pois isso é verdade, mas... Enfim, ele que passe para outra parte.

- Mas se o rapaz quer isto?

- Quer! quer... Também o outro quer. Ora essa é fresca. E vamos, Sr. Conselheiro, a gente também não há-de estar só a fazer favores, sem os receber quando os pede. Com este já são três. Pedi-lhe para o meu tio abade ser cónego; foi tanto cónego como eu; pedi umas caudelarias lá para a freguesia.





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