A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 19: XIX Pág. 299 / 508

Os mordomos acudiram logo para afastarem o Zé P’reira dali para fora. Ele deixou-se ir, limitando-se a dizer mansamente:

- Ora, senhores, que é forte desgraça a minha. Então uma pessoa não pode dizer o que sente? Ia ele já fora da igreja e ainda se lhe ouvia a voz repetir:

- Ora, senhores, que é forte desgraça a minha! Quando, depois desta cena, o missionário passou por Henrique, murmurou este, em voz perceptível, ao ouvido da Morgadinha:

- Diga se este todo e este modo de tratar ovelhas não é mais de magarefe do que de pastor.

O missionário ouviu estas palavras, pois que se voltou como se uma víbora o picasse, e faiscou-lhe no olhar o fulgor de um ódio farisaico. Henrique arrostou-o com audácia provocadora.

O padre entrou para a sacristia.

No entretanto o auditório dispunha-se para escutar o sermão, o mais comodamente que era possível naquele pequeno recinto.

No fim de alguns minutos aparecia no púlpito a figura bem nutrida e pouco atraente do famigerado educador dos povos.

Fitou com sobranceria os ouvintes e com particular insistência fixou em Henrique, que lhe ficava fronteiro, um olhar, que ele sustentou com firmeza.

Esta tácita provocação durou alguns minutos, no fim dos quais poderia talvez, quem estivesse prevenido, distinguir nos lábios do padre um sorriso rancoroso e perceber-lhe um movimento de cabeça quase ameaçador.

Enfim soltou o texto latino do sermão.

Seguiu-se nova pausa e principiou.

Apesar do exemplo de Sterne, que não duvidou entressachar nas páginas humorísticas da Vida e Opiniões de Tristram Shandy, um sermão sobre a consciência, eu não ouso transcrever para aqui o modelo de eloquência sacra, recitado pelo missionário naquele dia.

Ainda se eu pudesse transmitir aos





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