A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 19: XIX Pág. 303 / 508

Este, desde que viu que a imprecação lhe era dirigida, levantou- se e fitou o padre com ousadia imprudente. Preparava-se para lhe responder ali mesmo.

Quando o missionário concluiu, o sussurro da igreja degenerou em desordem. Das beatas transmitiu-se a revolta aos homens do campo, cuja má vontade para com as gentes das cidades cresce sempre que se suspeitam alvos dos desdéns ou zombarias desta. As ameaças soavam já distintas, os varapaus mexiam-se pouco pacificamente, o escândalo tomara proporções assustadoras.

Cristina quase desfalecia; Madalena, pálida, mas sem perder a presença de espírito, que nunca a abandonava, segurou o braço de Henrique e queria obrigá-lo a retirar-se da igreja.

Henrique resistia e procurava falar.

O velho Torcato, trémulo e enfiado, puxava também por ele como podia.

O alarido, a confusão, a desordem recrudesciam. O padre tinha perdido a cabeça, e do púlpito animava a anarquia berrando e bracejando.

Alguns homens prudentes, e entre eles o santo homem de um cura que havia na freguesia, obrigaram, quase à força, Henrique a sair da igreja por a porta da sacristia.

Ao vê-lo retirar, acompanhado das senhoras, o povo precipitou- -se em confusão para a porta principal para os vir esperar à saída da sacristia, e correu clamando atordoadoramente.

E, de feito, quando ali chegaram, viram-se em frente de uma impenetrável parede humana, de centenares de rostos que os fitavam furiosos, de braços que os ameaçavam, e de bocas donde partiam gritos de «morte aos pedreiros-livres, aos libertinos e aos hereges».

Madalena recuou; Cristina encostou-se-lhe ao ombro, quase desmaiada.

Henrique parou à porta, pálido, mas sem recuar diante daquela gente furiosa e ameaçadora.

- Que querem de mim e destas senhoras? - perguntou ele, com voz firme.





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