A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 20: XX Pág. 311 / 508

.. É o diabo!... Eu digo, não sei se é do costume em que uma pessoa se põe... mas... lembrar-se a gente de que fica assim à chuva e ao sol... Mas é do costume, é... Bem sente lá uma pessoa o frio depois de morta.

E, fazendo estas reflexões, prosseguiu no seu caminho.

Passou por uma pequena capela, erecta à borda de um pinheiral, sob a invocação da Virgem da Esperança, e reteve-se a fazer oração. Àquela imagem costumava encomendar a filha, sempre que saía da aldeia, e no regresso pagava-lhe em fervorosas orações a protecção obtida, e separava-se dali mais consolado e tranquilo.

Desta vez, porém, ficou triste e sobressaltado. Porquê? É que se lembrava de que tinha, ao partir, deixado Ermelinda doente, e estremecia agora na incerteza de como a iria achar.

Esta ideia fê-lo apressar o passo, como se quisesse, quanto antes, tirar-se daquela incerteza; mas, desde que avistou os telhados e muros da casa, parou irresoluto.

Parece que os objectos inanimados nem sempre têm para nós um mesmo aspecto. Há ocasiões em que as casas, as árvores, os muros, as portas se nos mostram com certos ares melancólicos, e quase direi pensativos, que nos enchem de sombras o coração; outras, em que umas aparências de sorrisos lhes dão uns ares de festa que alegram e convidam.

Ao Herodes aparecia-lhe triste desta vez a casa, que, de ordinário, ao avistá-la, lhe enviava um sorriso a dar-lhe as boas-vindas.

Seria o efeito das tintas desmaiadas, que dá aos objectos o sol crepuscular? Seria o reflexo dos pressentimentos próprios, que lhe estavam confrangendo o coração? Mas como lhe acudiram tão de súbito esses pressentimentos, a ele, ainda pouco tempo havia tão despreocupado? Como lhe ocorrera de repente a memória daquele dia em que, voltando também





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