A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 21: XXI Pág. 326 / 508

Era, como já dissemos, na casa do ervanário. Pela demolição dela e do quintal que a rodeava, principiaram as obras.

O velho Vicente assinara dias antes o auto de expropriação e recebera o preço da venda estipulado, o qual, por influência do conselheiro, não lhe foi muito regateado.

Ele, porém, o desconsolado velho, recebeu-o comovido. Por as árvores nada quis; não podia resignar-se a vendê-las. Podia vê-las cair, como amigos sacrificados no cadafalso, mas mercadejar-lhes com os restos, isso não.

O desinteresse e o escrúpulo do ervanário serviu à Fazenda Nacional de compensação ao excessivo preço por que foram expropriados os bens de que o Brasileiro se apossara, com o patriótico intuito de promover os seus melhoramentos particulares, preço que por empenho do conselheiro não foi litigado.

Ao principiarem os trabalhos, alguns grupos populares tentaram resistir, mas refrearam-se, em parte pelo respeito devido à coorte de operários melhor armados do que eles, em parte cedendo às imperiosas ordens do ervanário, que, ao sair pela última vez da casa, onde envelhecera, lhes disse, com voz irritada e severa:

- Quem lhes pediu que defendessem estas árvores? Que amor lhes tendes vós, para vos amotinardes por causa delas? Para trás! Os instigadores das massas conheceram que não era aquela a ocasião nem aquele o pretexto próprio para os seus projectos, e adiaram, em vista disso, a empresa, prudentemente.

Era no fim da tarde de um dia enevoado e frio, de um desses dias em que os ânimos mais fortes se deixam dominar de uma melancolia profunda.

Na baixa, em que ficava a habitação do ervanário, ia azáfama extraordinária.

O machado demolidor e a alavanca principiaram a sua obra de destruição; desconjuntavam-se as pedras dos





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