A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 21: XXI Pág. 332 / 508

.. Que me dizem do Sr. Joãozinho das Perdizes? Será fiel esse? Já me disseram também que...

- Ó Sr. Pertunhas - atalhou o ervanário, enfastiado - antes queremos não saber. Importa-nos pouco a política.

- Estão com eu... Isto também não é política, mas, enfim... Pelo que vejo estão cansados? Eu também não os maço mais... E, antes que me esqueça, há muitas horas que estou de posse de uma carta para vossemecê, Tio Vicente. É de Lisboa, veio por o correio de hoje. Não lha mandei a casa, porque... não sabia o que era feito dela. Eh, eh, eh... Mas, como o vi passar, conjecturei que viria para aqui, e por isso...

O ervanário recebeu a carta, que o mestre Pertunhas lhe deu, e, olhando para o sobrescrito, disse com indiferença:

- É do Manuel.

E abriu-a lentamente.

O mestre de latim deixou-se ficar, na esperança de ouvir novidades.

A meio da leitura o ervanário ergueu-se com ímpeto e exclamou, cheio de indignação e de cólera:

- Mentiu-me como um vil! Mentiu-me aquele homem sem dignidade nem sentimentos! Aquele homem importa-se menos com a felicidade dos amigos, com a justiça das causas e com a voz da própria consciência do que com os caprichos e interesses dos poderosos com quem vive!

- Mas que é? - perguntou Augusto, sem atinar com a significação daquelas palavras.

- Lê.

E passou a carta para as mãos de Augusto.

O conselheiro participava nesta carta ao ervanário que se vira obrigado a ceder, na questão do despacho de Augusto, a fortes influências que se empenhavam nisto muito mais do que ele julgava; que mais tarde lhe explicaria tudo. Enquanto a Augusto, acrescentava ele, talvez fosse isto até uma vantagem; que o lugar que pedira era a sua anulação perpétua, e que ele, conselheiro, havia de lutar contra a grande modéstia do rapaz, trazendo-lhe à luz os merecimentos reais, dando-lhe melhor colocação, e que esperava ainda empregá-lo na capital.





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