Era uma carta toda de homem político, que tudo espera da diplomacia.
Ao acabar de a ler, Augusto disse, com um sorriso amargo nos lábios:
- Eu sou pouco ambicioso; contento-me com morrer aqui.
- A mim me deu ele, ao partir, a sua palavra em que te faria despachar, e breve, e quebrou-a como um perro! Oh! o que fizeram daquele homem!
- Quê?! Pois é possível? - perguntou, exagerando a sua consternação e espanto, o oficioso Pertunhas. - É possível que o Sr. Augusto não fosse despachado?!
E, dizendo isto, passou a desfiar uma série de consolações, qual delas mais tola e sem cabimento.
Até que, enfim, tendo já novidades para contar, e almejando comunicá-las aos frequentadores da taberna do Canada, onde devia estar reunida grande e luzida assembleia, o Pertunhas saiu, a pretexto de não ser mais tempo incómodo, e deixou-os outra vez sós.
- Estão-me guardados para o fim da vida todos os desenganos! todas as amarguras! todos os desesperos!... - disse o ervanário momentos depois. - É para se odiar o Mundo e os homens, ver um, que conhecemos generoso e inocente, contaminado também!... Pobre Augusto! Não basta que sejam modestos os teus desejos... nem assim tos deixam realizar.
Guardados alguns momentos de silêncio, continuou, com amargo sarcasmo:
- Porque não te fazes político? Porque não vais também para a taberna do Canada dizer tolices sobre a governança do país? Talvez levasses contigo alguns tolos, e tinhas nisso uma recomendação poderosa. Olha para aquele basbaque do morgado das Perdizes... Aí tens um influente... Imita-o... Mas diz: o que tencionas fazer?
- Ficar - respondeu Augusto, com firmeza.
O ervanário fixou-o com um olhar penetrante.
- Ainda?... Mas... não te vai ser suave agora a vida, rapaz.