- O Sr. Henrique de Souselas está em casa? - perguntou ele, logo que pôde. - Desejava muito falar-lhe.
- Ai, sim? Quer falar com ele? Eu acho que... Parece-me... Sim, ele deve estar no quarto... Há-de estar a ler. Não tem outra vida aquele rapaz! Uma coisa assim! Por mais que eu lhe diga: «Henriquinho, olha que isso faz-te mal...» É o mesmo que nada. Só ler, ler, ler, que é uma coisa por maior. Ao princípio ainda por aí dava alguns passeios... Agora, tirando lá as suas visitas ao Mosteiro, ele para aí fica. Lá ao Mosteiro sim, para aí ainda ele vai.
- É que os ares são por ali muito saudáveis - disse maliciosamente Maria de Jesus.
- Adeus! Aí vem você com as suas coisas. E então que tem? Pois está claro que um rapaz, como ele, dá-se com a gente nova.
- Pois sim, senhora, eu não digo...
- E as raparigas de lá já não estão bem sem ele... Ora eu confesso, quando ele está de maré, é um gosto ouvi-lo. Sempre às vezes tem coisas que fazem rir as pedras.
- E pondo-se a contar histórias? Ih! Isso então é que é! Eu não sei onde ele as vai buscar! - acrescentou a criada.
- Com esta - continuou D. Doroteia, apontando para Maria de Jesus - é às vezes um passo. Eu ainda queria que o Augustito os visse a ambos. É perdido em pouca gente. Ele põe-se lá a inventar patranhas, e ela, a tola, que sabe já como ele é, ouve tudo muito séria e fiada, e, no fim, então é que são os escarcéus. Enfim, uma coisa é dizer, outra é ver!
E D.