A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 23: XXIII Pág. 364 / 508

Doroteia ria, com aquele rir meio tossido de velha, em que há não sei que indícios de uma existência plácida, que consola ouvir.

Augusto forçava-se a sorrir àquelas narrações das duas velhas, a que mal atendia.

- Eu digo - continuou D. Doroteia - que já nos havia de fazer falta se saísse daqui; quando cá não está, parece-me a casa morta.

- Deixe lá, senhora, que este já daqui não sai.

- Ora bem sabe você disso.

- Pois a senhora verá. Ora! Os passeios ao Mosteiro são muito bonitos.

Augusto ergueu-se, deveras resolvido a cortar a conversa por uma vez.

- Se me dá licença, eu vou procurá-lo ao quarto. Desejava falar-lhe, quanto antes, para um negócio de urgência.

Depois de mais algumas reflexões, resignaram-se a deixá-lo partir.

Augusto transpôs rapidamente os corredores, que o separavam do quarto de Henrique, e bateu à porta deste.

- Entre quem é - disse de dentro Henrique.

Augusto entrou.

O sobrinho de D. Doroteia estava sentado junto da janela, lendo uma folha e fumando.

Ao ver Augusto levantou-se.

A lembrança das cenas daquela manhã no Mosteiro e a expressão de fisionomia de Augusto fizeram-lhe prever a índole da entrevista que se ia seguir.

Evitando, porém, o menor indício que pudesse revelar a prevenção em que estava, disse naturalmente, estendendo a mão a Augusto:

- Oh! Por aqui! A que devo o prazer desta visita? Em vez de lhe corresponder ao cumprimento, Augusto disse friamente:

- Assim estende a mão a um miserável? Ou é tibieza de pundonor, ou excesso de magnanimidade! Henrique retirou logo a mão e respondeu com orgulhoso desdém:

- Nem uma coisa, nem outra; simplesmente o juízo bastante para não me arvorar em superintendente de negócios que me não dizem respeito; é um sentido especial, que se chama - delicadeza.





Os capítulos deste livro