A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 23: XXIII Pág. 368 / 508

- Antes de mais nada: de que me acusam? - perguntou Augusto.

- Pois não sabe?! - exclamou Henrique, admirado.

- Vagamente apenas. Sei que há uma carta extraviada, mas a confusão em que fiquei, mal me deixou compreender... Henrique contou, então, tudo o que se passara no Mosteiro, e terminou, dizendo:

- Já vê que eu não fiz mais do que faria outro qualquer em meu lugar: pesava sobre todos quantos frequentavam aquela casa uma desconfiança odiosa; esclarecer o mistério, dissipar as suspeitas, lançar aos ombros do culpado toda a responsabilidade de traição, era o natural empenho de todos. A descoberta da carta na sua pasta acusava-o. Esta descoberta foi ocasionalmente feita por D. Vitória. Eu não o conhecia bastante para que o seu passado me obrigasse a recusar o testemunho das aparências. Os motivos de despeito, que as suas mesmas palavras por aquela ocasião confirmaram, explicavam muito bem certas tentações de vingança... Nada mais natural do que supor...

Augusto cobriu o rosto com as mãos, murmurando:

- Acusado!... Acusado de uma infâmia, e diante de...

Aqui reteve-se, como se a tempo compreendesse a indiscrição da sua dor. Henrique cada vez se sentia mais modificado nas suas disposições para com Augusto; por isso, quando este cortou assim em meio a expressão do pensamento, ele, que lho percebeu, disse- -lhe, sorrindo:

- Dela? Sossegue. Tem junto desse tribunal, de que se receia tanto, advogados eloquentes.

Augusto levantou para Henrique um olhar interrogador.

- Diz que...

- Que não deve temer da impressão produzida por todas as provas deste mundo no ânimo de quem, através de tudo, acreditará sempre na sua inocência.

- Refere-se a...

- Ao seu segredo, que há muito o não é para mim. Veja como eu estou virado! Acho-me quase disposto a simpatizar com ele, quando há pouco tempo ainda, sinceramente o confesso, era esta a causa oculta de tal ou qual antipatia, que sentia pelo senhor.





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