A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 25: XXV Pág. 385 / 508

O enterro fazia-se com extraordinário aparato, não só em honra da família do Mosteiro, mas para desvanecer a má impressão dos ânimos populares por meio da pompa religiosa.

Era digno do pincel de um artista, a quem a poesia das cenas campestres ainda inspirasse, o cortejo, ao mesmo tempo melancólico e risonho, que, saindo da igreja, se encaminhava lentamente para o túmulo onde Ermelinda devia ser sepultada.

O Sol, quase a desaparecer sob o horizonte, entrava na estreita zona, que as nuvens não toldavam.

A paisagem inundava-se agora de luz, mas de uma luz froixa, amarelada, que dá ao verde da relva e das frondes das árvores uma maior intensidade.

A cruz de prata, que, arvorada por um homem de opa, abria o cortejo, reflectindo aqueles raios amortecidos, brilhava como cingida de uma verdadeira auréola. Seguiam-se alguns padres de sobrepeliz e batina, recitando as orações da ocasião; entre estes havia um de aspecto venerando, curvado pelos anos, de fisionomia bondosa e pensativa. Era o cura, santo e respeitável ancião que, em vez de exacerbar os preconceitos do povo contra os enterros no cemitério, antes energicamente os combatia e censurava.

Depois vinha, em caixão aberto, e no meio de uma numerosa companhia de crianças, Ermelinda, a quem a palidez da morte não dissipara a formosura.

Dir-se-ia apenas adormecida. Trazia nos lábios o sorriso da inocência.

As mãos cruzavam-se-lhe naturalmente sobre a túnica alvíssima que a cingia, a mesma com que aparecera no auto, e a cabeça, cercada por uma singela coroa de flores, conservava a graciosa inclinação que lhe era habitual em vida.

As crianças do acompanhamento tinham sido escolhidas, por Madalena e Cristina, entre as mais gentis da aldeia.

Era uma coorte de querubins humanados, qual deles mais louro e mais formoso.





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