A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 25: XXV Pág. 389 / 508

preconceito delas, vem então a segunda onda, mais ordenada, mas mais terrível, porque não é a embriaguez do motim que a impele, é a ideia fixa, o pensamento reservado, o plano de antemão traçado e urdido no mistério e na sombra.

Vem, então, reforçar a primeira, insuflar-lhe o alento que esta não tem de si, e amparar-se com ela dos golpes dos inimigos. Se a tentativa não vinga, retiram-se antes que, derrubada a vanguarda, fiquem a descoberto; mas, se a sorte os favorece, deixam cair os primeiros como vítimas, e no campo da vitória adiantam-se, então, a colher os troféus conquistados.

Foi assim que, no momento em que o bando capitaneado pelo morgado das Perdizes ia ceder, um pouco subjugado pela figura solene e a palavra severa do venerando cura, saiu da igreja uma singular procissão.

À frente vinha o estandarte da confraria erecta pelo missionário; este seguia-o, e, atrás dele, os seus confrades e sequazes, no número dos quais se encontravam padres e mulheres.

A hoste do Sr. Joãozinho sentiu-se reanimar com este reforço.

Um grito uníssono saiu dos lábios de todos ao ver a procissão.

- Viva o missionário!

- Viva o santo!

- Abaixo os pedreiros-livres! E os do bando do estandarte correspondiam a estas saudações, dizendo:

- Abaixo os maçónicos!

- Morram os jacobinos!

- Viva a santa religião!

Mais uma vez este brado augusto, que devera proclamar o perdão das injúrias, o amor recíproco, a caridade indistinta, era profanado por o fanatismo e por a hipocrisia, e manchado pelo sofisma de séculos, o mesmo sofisma que maculou os feitos de armas dos passados guerreiros da Cristandade.

A embriaguez da revolução apoderou-se de novo do morgado das Perdizes. Duas influências inebriantes lhe disputavam agora o cérebro, que não fora nunca dotado de grande fortaleza contra as paixões.





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