A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 25: XXV Pág. 390 / 508

Palpitava-lhe o coração, quando se imaginava caudilho de um movimento popular.

Sentia a necessidade de se fazer notável por um feito heróico.

- Não se consentem aqui enterros, e principiemos já por deitar abaixo estas pedras - bradou ele, apontando para o túmulo da família do conselheiro.

- É verdade! É verdade! Abaixo! Abaixo!

- São invenções dos pedreiros-livres!

- É isso, é isso!... Pois não vêem que são de pedra!

- Abaixo! Abaixo! O Sr. Joãozinho, arrojando de si o chicote, tirou um machado das mãos de um homem que lhe ficava próximo, e deu alguns passos para o túmulo.

Madalena colocou-se diante dele.

Já não estava pálida; tinha nas faces o rubor, nos olhos o lampejar da indignação.

- Afaste-se, senhor! - bradou ela, estendendo a mão para o ébrio, que parou a fitá-la com olhos espantados. - Nem sequer pouse os pés nos degraus desta sepultura. Aqui repousa minha mãe. Atrás!

A figura, o olhar, a voz, as palavras de Madalena exprimiam uma das resoluções enérgicas e potentes daquela índole simpática, que aos afectos e branduras de mulher sabia combinar a firmeza e energia quase varonis.

O morgado sentiu uma vaga consciência da sublimidade daquela cena, e ficou enleado.

Porém o Cosme, o seu génio mau, não sei que lhe murmurou ao ouvido, que ele desatou a rir a mais alvar gargalhada que ainda escancarou boca humana.

Estendendo para Madalena a mão calosa e grosseira, disse-lhe, com um sorriso que tinha tanto de cínico como de estúpido:

- Está dito! Toque! Gosto desse desengano! Toque!

Madalena repeliu-o com desprezo e aversão.

- Ah! ah! Faz-se fidalga! - disse o Sr. Joãozinho, despeitado.

- Pois não anda bem.

O missionário inclinou-se ao ouvido de um homem do povo, que, depois de escutá-lo, bradou:

- Abaixo com o túmulo dos pedreiros-livres!

- Abaixo!.





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