preconceito delas, vem então a segunda onda, mais ordenada, mas mais terrível, porque não é a embriaguez do motim que a impele, é a ideia fixa, o pensamento reservado, o plano de antemão traçado e urdido no mistério e na sombra.
Vem, então, reforçar a primeira, insuflar-lhe o alento que esta não tem de si, e amparar-se com ela dos golpes dos inimigos. Se a tentativa não vinga, retiram-se antes que, derrubada a vanguarda, fiquem a descoberto; mas, se a sorte os favorece, deixam cair os primeiros como vítimas, e no campo da vitória adiantam-se, então, a colher os troféus conquistados.
Foi assim que, no momento em que o bando capitaneado pelo morgado das Perdizes ia ceder, um pouco subjugado pela figura solene e a palavra severa do venerando cura, saiu da igreja uma singular procissão.
À frente vinha o estandarte da confraria erecta pelo missionário; este seguia-o, e, atrás dele, os seus confrades e sequazes, no número dos quais se encontravam padres e mulheres.
A hoste do Sr. Joãozinho sentiu-se reanimar com este reforço.
Um grito uníssono saiu dos lábios de todos ao ver a procissão.
- Viva o missionário!
- Viva o santo!
- Abaixo os pedreiros-livres! E os do bando do estandarte correspondiam a estas saudações, dizendo:
- Abaixo os maçónicos!
- Morram os jacobinos!
- Viva a santa religião!
Mais uma vez este brado augusto, que devera proclamar o perdão das injúrias, o amor recíproco, a caridade indistinta, era profanado por o fanatismo e por a hipocrisia, e manchado pelo sofisma de séculos, o mesmo sofisma que maculou os feitos de armas dos passados guerreiros da Cristandade.
A embriaguez da revolução apoderou-se de novo do morgado das Perdizes. Duas influências inebriantes lhe disputavam agora o cérebro, que não fora nunca dotado de grande fortaleza contra as paixões.