A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 25: XXV Pág. 392 / 508

Um homem, que parecia chegar de longa jornada, aproximara-se do cemitério, cada vez mais pressuroso à medida que se afirmava nos grupos ali reunidos.

Entrou justamente quando a fúria popular crescia mais impetuosa.

A figura da Morgadinha, em pé sobre os degraus do túmulo, abraçada a ele, dominava toda aquela multidão.

Ao descobri-la à distância, o homem que dissemos soltou uma exclamação, como de quem tinha compreendido ou adivinhado a significação daquela cena; e, apressando ainda mais os passos, achou-se, dentro em pouco, no lugar do motim.

Era tempo.

A populaça alucinada ia talvez exercer algumas dessas irreflectidas violências, que tantas vezes maculam e desonram a causa do povo nas lutas em que ele toma parte.

- Que é isto aqui? - disse o homem, rompendo com os braços potentes a onda que se lhe antolhava.

À rudeza do impulso ninguém resistiu; em pouco tempo abriu caminho até ao meio do círculo.

Uma só voz correu por as diferentes pessoas do grupo dos amotinados.

- O Herodes!... É o Herodes!... - diziam, afastando-se.

Efectivamente era o Cancela o homem que tinha chegado.

Obtendo fiança, graças à intervenção do conselheiro, voltava à terra, ansioso por ver e beijar a filha, cuja ausência fora a única dor que o atormentara.

O desgraçado não sabia ainda da sorte dela.

Uma carta que Madalena lhe escreveu, noticiando-lha, já não o encontrara na prisão, para onde fora dirigida.

Vinha cheio de esperanças o pobre homem, porque eram para animar as últimas notícias recebidas.

Vendo de longe o ajuntamento no cemitério, ouvindo os gritos sediciosos, conjecturou que havia algum motim popular por causa dos enterros no adro, que ele sabia serem antipáticos aos espíritos da terra.

Quando descobriu a Morgadinha, envolvida pelo tumulto, e no túmulo da mãe, previu que ela estava correndo perigo, e apressou- -se logo a acudir-lhe.





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