Vejam se, nestas circunstâncias, o pobre rapaz podia deixar de ir cabisbaixo, triste e dando ao diabo a viagem que cometera.
E para quê e por quê a cometera ele assim?
Em poucas palavras procuraremos satisfazer a natural interrogação, que é de supor nos dirigissem os leitores, se pudessem fazê-lo.
Este Henrique de Souselas atingira a idade dos vinte e sete anos, vivendo, como dissemos, aquela elanguescedora vida da capital, e dividindo as atenções do espírito pela política, pela literatura e pelos destinos do teatro de S. Carlos do qual estava habilitado a fazer circunstanciada crónica, que abrangesse os últimos dez anos.
Não concebia vida fora daquilo.
O mundo para ele era Lisboa. Não sentia desejos, nem imaginava possibilidade de visitar a Europa, quanto mais a província, o que seria maior façanha.
Não que lhe faltassem recursos para realizar qualquer projecto desta natureza.
Henrique herdara dos pais rendimentos bastantes, dos quais vivia folgadamente e sem precisar de sacrificar nos altares da economia.
Mas a indolência lisbonense manietava-o ali. A poucos ia tão direita a apóstrofe de Garrett aos «seus queridos alfacinhas», a qual se pode ler no capítulo sétimo das Viagens.