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Capítulo 1: I

Página 3
até os pulmões, o frio que nos inteiriça os membros, o sol que nos congestiona o cérebro, tudo então nos desafina o espírito, que trazíamos na tensão necessária para vibrar perante as maravilhas da natureza ou da arte.

Só pelo preço de muitas jornadas se compra o hábito de ficar impassível no meio dos episódios destas pequenas odisseias, que atormentam e exaurem o ânimo dos Ulisses novatos; mas ai! quando se adquire esse hábito, também nos achamos já com a sensibilidade mais embotada para as comoções do belo.

Examina-se com mais minuciosidade, mas com menos entusiasmo; analisa-se mais e melhor; porém a própria análise é a prova de que se sente menos. Onde domina o sentimento e a imaginação, mal têm cabida a paciência e fleuma, necessárias aos processos analíticos. O homem positivo e frio recolhe de qualquer excursão à pátria com a carteira cheia de apontamentos; o entusiasta e poeta nem uma data regista. Viu menos, sentiu mais.

Mas Henrique de Souselas - que era este o nome do cavaleiro - fora educado e passado da infância à plena juventude, em Lisboa, levantando-se por avançada manhã, frequentando o teatro, o Grémio, as Câmaras, parolando no Chiado ou no Rossio, e indo alguns dias do ano a Sintra, ou a qualquer praia de banhos, desenfadar- se da monotonia da capital.

Desde que fazia perfeito e consciente uso da razão, fora esta jornada, em que o encontrámos, a primeira levada a efeito, e logo sob tão maus auspícios, que era para sufocar-lhe à nascença os instintos de touriste, se porventura quisessem despertar nele.

Havia dois dias que cavalgava aquele rocinante, único veículo acomodado aos caminhos por que passara. E então que dois dias! Daqueles, durante os quais o céu, uniformemente pálido, parece desfazer-se

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 3

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506