A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 41 / 508

Graças a Deus, que aí vem! - diziam todos à uma.

O funcionário principiou a impacientar-se.

- Então! Então! Por onde há-de ele entrar, fazem favor de me dizer? Saiam, saiam. Não ouvem? Então não fazem caso das minhas ordens? Dêem lugar. Não vêem que estão molestando este senhor? Cada um dos repreendidos nestes termos indignava-se ao ver que os outros não obedeciam às ordens, mas, pela sua parte, não cedia um passo, como se lhe valesse algum especial privilégio.

- Saia você, mulher - dizia um.

- E você por que não sai? Olha agora!

- A todos há-de chegar a vez. Descanse. Se tiver carta, lha darão. Lá por estar aqui não é que...

- Pois então saia também. Ora essa!

- Ó santinha, não empurre.

- Ó filho, quem é que lhe fez mal?

- Por onde é que se quer meter, homem de Deus?

- Eu não sou menos que os outros.

- Que quereis vós daqui, canalhada?

- Não bata, que ninguém lhe tocou, seu velhote.

- Espera que eu te falo.

Estas e análogas vozes abafavam num rumor tumultuoso as agudas declamações do «director do correio», o qual obrigou Henrique a passar para dentro da teia, para se salvar das ondas populares.

Henrique estava achando igualmente curiosa a indignação do homem e a alvoroçada ansiedade do povo.

Há, de facto, poucas cenas tão animadas, como a da chegada do correio e da distribuição das cartas em uma terra pequena.

Durante a leitura dos sobrescritos, feita em voz alta pelo empregado respectivo, um observador, que estude atento as impressões que essa leitura opera nos semblantes dos que, ávidos, a escutam, como que vê levantar-se uma ponta da cortina, corrida a ocultar- -nos as cenas da comédia ou da tragédia da vida de cada um.

Que hora de comoções aquela, em que se abrem as malas,





Os capítulos deste livro