A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 426 / 508

Parece-me poder afirmar que desta vez já houve correspondência.

O velho Torcato, farto de esperar de fora da capela, e achando que as rezas se prolongavam de mais, resolveu chamar Cristina.

Ao entrar divisou porém três pessoas em lugar de uma só, que esperava, e recuou estupefacto e aterrado.

Supôs que almas penadas andavam na capela.

O bom do homem não ousava aproximar-se.

Madalena, que o ouvira entrar, animou-o, dizendo:

- Não tenha medo, Torcato. A alma de minha madrinha encarregou- me de fazer esta noite as suas vezes. Sou eu.

O espanto do feitor não era agora menor. Esfregava os olhos, como se receasse estar dormindo, e não passava de olhar para Madalena, para Henrique e para Cristina, sem entrar na explicação do que via.

Custou a fazê-lo voltar da sua estupefacção.

Momentos depois entravam todos quatro na sala onde Henrique fora recebido por Madalena, e aí a velha Brízida lhes serviu o chá.

A antiga criada da morgada fez muita festa a Cristina, e, como já percebera a casta de sentimentos que havia entre esta e Henrique, soltou algumas insinuações, que a obrigaram a corar, e a rir Madalena.

Passou-se uma bela noite, conversando-se e rindo-se em perfeita intimidade.

Que longe estava eu hoje de pensar neste delicioso serão! - disse Henrique. - Decididamente é de maravilhas esta casa; o povo tem razão.

A morgada defunta foi decerto quem se encarregou de fazer os convites.

- É verdade: como foi que vieram aqui? - perguntou Cristina, já mais desenleada. - Já sei: foi este Torcato que me não guardou segredo. O que merecia!...

- Eu, menina?! Ora essa! Eu até...

- Neste Torcato há alguma coisa mais para recear do que a indiscrição - disse Madalena.

- Que é? - tornou a prima.

- É a discrição.





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