A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 450 / 508

Os homens, com os cabelos para diante dos olhos, os braços estendidos e a cabeça baixa, não ousavam fazer um movimento, e conservavam-se enfileirados até nova ordem do Sr. Joãozinho.

Pareciam envergonhados de serem precisos a alguém.

No bolso de cada um destes homens havia um oitavo de papel almaço dobrado, no qual estava escrito um nome; o nome de um homem que eles nem sabiam se existia no Mundo. No momento devido, cada um deles, chamado pela voz do escrutinador eleitoral, responderia: «Presente»; aproximar-se-ia da urna, entregaria ao presidente da mesa aquele papel, e retirar-se-ia satisfeito, como se descarregado de um peso que o oprimia.

Se lhes perguntassem o que tinham feito, qual o alcance daquele acto que acabavam de executar, não saberiam dizê-lo; se lhes perguntassem o nome do eleito para advogado dos seus interesses e defensor das suas liberdades, a mesma ignorância; se lhes propusessem a resignação do direito de votar, aceitariam com júbilo; se, finalmente, lhes dissessem que naquele dia estavam nas suas mãos e dos seus pares os destinos do país, abririam os olhos de espantados, ou sorririam com a desconfiança própria dos ignorantes.

Inocente povo! Querem-te assim os ambiciosos, a quem serves de cómodo degrau.

Quando disseram ao Sr. Joãozinho que já tinha passado a sua vez de votar, o homem rompeu pela igreja dentro, berrando, bracejando, ameaçando céus e terra e sem atender a quantos lhe clamavam que tinha de se proceder a nova chamada, e que, portanto, sossegasse.

O Cosme seguia-o pronto a ser executor de suas justiças.

Custou a serenar o morgado, e não o fez senão depois de duas pragas contra as pressas dos senhores da mesa, pragas que razões políticas fizeram engolir ao Brasileiro, sem nem sequer lhe tirarem dos lábios o sorriso com que saudara a vinda do morgado.





Os capítulos deste livro