A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 29: XXX Pág. 451 / 508

Caindo em si, o Sr. Joãozinho deu ordem à sua gente para que entrasse para a igreja, e aí a enfileirou a um dos lados dela, prontos à primeira voz.

A chamada prosseguia, e a votação não ia já muito favorável ao conselheiro, a julgar pelos indícios, que não escapam aos olhos amestrados dos mirones.

O Brasileiro exultava consigo mesmo, principalmente quando, por sobre as cabeças dos que se agrupavam em volta da urna, divisava as falanges do morgado, compactas e decididas.

O conselheiro ainda tentou uma investida com o Sr. Joãozinho, indo cumprimentá-lo, afavelmente; este, porém, grunhiu-lhe um monossílabo seco e voltou-lhe as costas, envolvido numa nuvem de parciais do Brasileiro.

Era caso desesperado! Passara já a votar a última freguesia, que era justamente aquela onde estava constituída a única assembleia de que se compunha o círculo eleitoral e onde o leitor tem passado comigo todo o tempo que dura a nossa narração.

Foi então que votou o conselheiro e os outros conhecidos nossos, entre os quais o Zé P’reira.

Com este deu-se um episódio cómico, que merece menção.

O Brasileiro, ao receber a lista que ele lhe oferecia, sabendo-o parcial do conselheiro, recusou-a, alegando que estava marcada, o que era contra a expressa determinação do artigo 61.°, § único, da lei eleitoral.

Sabidas as contas, a suposta marca era de natureza de que seria quase impossível isentar papel ou objecto qualquer saído das mãos do Zé P’reira. Era uma nódoa de vinho.

Discutiu-se, ainda assim, se a nódoa era marca ou não era marca, e se lhe deviam ser aplicadas as disposições do § único do artigo 61.°.

A discussão intrincada foi cortada por o Zé P’reira, que disse com a maior candura:

- Se essa está suja, Sr. Tapadas, eu tenho aqui mais daquelas que vossemecê me deu.





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