A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 31: XXXII Pág. 484 / 508

as estações da meia-noite; onde Henrique foi, para seguir e observar Cristina, e onde eu fui, com a Brízida, para os vigiar a ambos e preparar-lhes o futuro, intervenção algum tanto perigosa, porque podia haver quem me seguisse a mim com menos generosas intenções do que as de qualquer dos três, e que, ao ver-me em tão extraordinário sítio, a tais horas, não me concedesse a confiança precisa para acreditar, através de tudo, na minha inocência.

A alusão era clara, e mais clara a fazia a inflexão com que foi pronunciada.

Augusto curvou a cabeça e murmurou:

- Tem razão, algum miserável.

- Ou algum infeliz - corrigiu delicadamente Madalena. - Os infelizes são também sujeitos a perderem a fé. Mas quem lhes pode levar a mal isso?

Houve alguns instantes de silêncio, ao fim dos quais a Morgadinha disse mais jovialmente:

- Mas afiancei há pouco que não partiria. Acaso me enganei?

Augusto, como o leitor concebe decerto, já não tinha ânimo nem razão para dizer que partia. Calou-se.

Ângelo, a cuja pronta inteligência não tinha ficado latente o verdadeiro sentido deste diálogo, graças também ao conhecimento que ele tinha, havia muito, do coração de sua irmã e do de Augusto, respondeu por ele:

- Não te enganaste, não, Lena. Também eu já digo que Augusto não partirá.

E Augusto sem protestar! Madalena tornou-se de súbito mais séria e grave do que até ali, e a mesma gravidade tinha na voz quando de novo se dirigiu ao irmão, dizendo:

- Para vir aqui, pedi o auxílio do teu braço de criança, Ângelo, como se fora o de um homem. Deixa-me considerar-te por mais algum tempo ainda da mesma maneira, enquanto não termino a minha missão. Há pouco, depois que me leste a carta, que a ti só tinha sido dirigida, perguntaste-me: «Que tencionas fazer?» Não foi assim?

- Foi, e tu respondeste-me o que eu esperava.





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