A alusão era clara, e mais clara a fazia a inflexão com que foi pronunciada.
Augusto curvou a cabeça e murmurou:
- Tem razão, algum miserável.
- Ou algum infeliz - corrigiu delicadamente Madalena. - Os infelizes são também sujeitos a perderem a fé. Mas quem lhes pode levar a mal isso?
Houve alguns instantes de silêncio, ao fim dos quais a Morgadinha disse mais jovialmente:
- Mas afiancei há pouco que não partiria. Acaso me enganei?
Augusto, como o leitor concebe decerto, já não tinha ânimo nem razão para dizer que partia. Calou-se.
Ângelo, a cuja pronta inteligência não tinha ficado latente o verdadeiro sentido deste diálogo, graças também ao conhecimento que ele tinha, havia muito, do coração de sua irmã e do de Augusto, respondeu por ele:
- Não te enganaste, não, Lena. Também eu já digo que Augusto não partirá.
E Augusto sem protestar! Madalena tornou-se de súbito mais séria e grave do que até ali, e a mesma gravidade tinha na voz quando de novo se dirigiu ao irmão, dizendo:
- Para vir aqui, pedi o auxílio do teu braço de criança, Ângelo, como se fora o de um homem. Deixa-me considerar-te por mais algum tempo ainda da mesma maneira, enquanto não termino a minha missão. Há pouco, depois que me leste a carta, que a ti só tinha sido dirigida, perguntaste-me: «Que tencionas fazer?» Não foi assim?
- Foi, e tu respondeste-me o que eu esperava.