Pediste-me que te acompanhasse aqui.
- Hás-de já ter percebido que o pensamento que me obrigou a este passo, que não sei se me deverão censurar, creio até que devem, que esse pensamento não está cumprido ainda.
- Vejo que não.
- Pois é diante de ti, Ângelo, que considero como um homem, como um bom conselheiro, é diante de ti, como seria diante de quem quer que aí estivesse em teu lugar a ouvir-me, que eu vou concluir o meu pensamento.
E, voltando-se para Augusto, Madalena acrescentou com firmeza, que só um demasiado rubor trairia, se a luz fosse bastante para o denunciar:
- Augusto, está pobre, sem família, sem amigos, e, para última provação, até as traições e as suspeitas lhe não pouparam o nome honrado que herdou. Essa posição dá-lhe direitos que eu sei compreender, creia. É uma espécie de nobreza, de que se não pode exigir humilhação alguma. Por isso, sem hesitar, com toda a lealdade, vim aqui em companhia de Ângelo para estender-lhe a mão e dizer-lhe que, se, como tenho razões para crer, as simpatias de uma alma que há muito o compreende, Augusto, se essas simpatias podem bastar às aspirações da sua, se, para ganhar coragem, os meus afectos lhe podem servir, conte com o auxílio da minha alma... e dos meus afectos. É diante de ti, que faço esta confissão, Ângelo. Terás que me ralhar por causa dela?
Ao ouvir aquelas palavras, Augusto esqueceu toda a hesitação, e, tomando entre as suas a mão que Madalena lhe estendia, cobriu-a de beijos apaixonados.
Madalena não teve pressa de retirá-la.
Ângelo veio também beijar as faces da irmã. Era assim que respondia à pergunta dela.
Pobres crianças! Porque afinal eram crianças todos três, crianças a quem inda os romances namoram, sem que se lembrem de que, ao transplantá-los para a vida real, todos os desconhecem e censuram, e só regando-os de lágrimas é que as mais das vezes se consegue nutri-los.