A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 490 / 508

- Deve ser isso. Já tardava. É comunicado do Seabra. Leia, que são curiosos. O homem a apreciar as eleições de domingo deve ser soberbo. Isso não se pode perder. Leia, leia.

- Assina-o um leitor indignado.

- Justo. É o estilo do homem. Vamos lá a ver isso.

Henrique principiou a ler em voz alta o comunicado do Brasileiro.

A peça literária, de precioso lavor, em que o Sr. Seabra contava ao Mundo os factos eleitorais da sua terra, muito desejaria eu transcrevê-la aqui, se, pela sua extensão, não tomasse demasiado espaço, e se, pela sua unidade e estreita ligação lógica, se não subtraísse à menor tentativa de fragmentação.

Aquele comunicado era indivisível.

Apesar desta forçada omissão, espero que os leitores farão a justiça de supor o escrito digno do distinto economista, que ouvimos discursar com tanta proficiência na taverna do Canada.

O homem escrevia recheado de indignação pela série de ilegalidades, escândalos, subornos e pressões de todo o género de que, dizia ele, fora teatro aquela pacífica aldeia do Minho.

Em linguagem chã e rude ia tornar patente, acrescentava, aos olhos de todos uma pestífera chaga do organismo social. Sofismara- -se a urna e calcara-se aos pés a Carta. As frases em itálico são dele. Depois de um exórdio por esta afinação, em que fazia a conveniente razão de ordem, entrava o homem na matéria. Era um modelo de impertinente bisbilhotice o escrito; desfiava-se ali a vida de todos os eleitores com uma minuciosidade esmagadora.

Contava-se como o compadre de Fulano dissera isto e aquilo ao sobrinho de Sicrano; e como tal indivíduo fizera e acontecera; e como tal disse que havia de fazer, e não fez; e como aquele nem disse nem fez; e como aqueloutro dissera e fizera, e assim por diante.





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