A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 497 / 508

porque eu, que só tarde soube do desespero que o obrigava a partir, e que o sabia tão leal como pobre, tão inocente como perseguido pelo infortúnio, eu, que o vi quase expulsar desta casa, sob o peso de uma acusação em cuja verdade nunca pude acreditar, julguei do meu dever ir eu própria procurá-lo para lhe estender a mão e dizer-lhe: «fique, e prometo-lhe que todos lhe farão justiça em breve».

Quando Madalena acabou de dizer estas palavras com firmeza e exaltação crescentes, ninguém ousou falar na sala; e os olhos de todos dirigiram-se instintivamente para o conselheiro.

Cristina tremia; as outras senhoras pasmavam; Henrique e Ângelo sentiram-se profundamente inquietos.

Todos viram passar por diferentes cores as faces do conselheiro, os lábios agitaram-se-lhe num tremor convulso, e, com a voz evidentemente alterada pela cólera, disse para a filha, passados alguns instantes:

- Pois saiba, senhora, que para as leviandades de uma rapariga estouvada, há meios mais racionais do que esses que parecem naturalíssimos à sua razão estragada pelos romances. Eu ainda não prescindi da minha autoridade paterna, e ela me servirá para corrigir essas levezas, de que deveria envergonhar-se.

Esta cena de família aumentava cada vez mais a dificuldade da posição de todos os que estavam presentes. Ninguém ousava intervir, ou, desejando-o, ninguém sabia a maneira de o fazer.

Entre as falsas situações, em que nos achamos às vezes nesta vida, poucas se podem comparar, no incómodo que produzem, à de assistir a uma questão doméstica, por qualquer motivo que seja originada.

Quem se conservou daquela vez menos inactiva foi Cristina, que prendeu Lena nos braços, não sei se para instintivamente a defender, se para reprimir-lhe o ímpeto de reacção que receava nela.





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