A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 4: IV Pág. 51 / 508

Imagine-se uma vasta casaria de um andar, além do térreo, com muitas janelas de peitoril e uma só varanda de pedra, sobranceira à porta principal; acima do telhado, uma espécie de água-furtada, de construção evidentemente posterior e aconselhada aos proprietários modernos por conveniências de acomodação doméstica; e ter-se-á concebido o edifício.

Enquanto Henrique se ocupava a examinar estas particularidades, um velhito, que, sentado em um banco de pedra, que havia à porta de casa, se estava aquecendo ao sol, ergueu-se e veio ao encontro do recém-chegado, tossindo e arrastando os passos.

Junto de Henrique, o velho, de aparência meia rústica, meia urbana, depois de o saudar com grave cortesia, que deixou a descoberto o solidéu fradesco com que resguardava a fronte calva, perguntou se havia alguma coisa em que o pudesse servir.

Ouvindo, depois de repetida, a resposta de Henrique, que disse procurar a senhora, com nova cortesia lhe fez sinal para que o acompanhasse, e ambos atravessaram o pátio em direcção da casa.

No portal, o velho afastou-se de lado com toda a deferência para deixar passar Henrique; em seguida, abriu-lhe a porta de uma primeira sala, e, voltando-se, pediu-lhe que lhe dissesse quem havia de anunciar. Henrique deu-lhe para esse fim um bilhete de visita, cuja significação teve de explicar, porque o velho não a compreendia bem.

Afinal, porém, retirou-se por outra porta, levando o bilhete.

A sala em que Henrique ficou esperando era toda mobilada com pesadas cadeiras de coiro lavrado e alto espaldar, mesas de pés em espiral, e pelas paredes alguns enegrecidos retratos de frades, pertencentes provavelmente aos antigos proprietários do mosteiro.

No momento em que o velho servo, que era uma espécie de





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