A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 5: V Pág. 71 / 508

apreciar todo o tesouro de sentimentos que ali se continha; então descobrir-se-lhe-ia nas feições certa beleza ideal, reflexo de bondade e candura, uma dessas claridades que as almas puras e generosas vertem nas fisionomias. Se não fosse recear-me de linguagem que saiba a filosofia, diria que a beleza que possuem umas mulheres assim, é uma beleza subjectiva.

De tudo isto é natural concluir que Henrique de Souselas podia simpatizar com a cândida figura de Cristina, a qual baixava timidamente os olhos diante dele, corando cheia de enleio e confusão, mas que qualquer sentimento que ela lhe inspirasse não conseguiria por muito tempo desviar-lhe o sentido dos encantos mais atraentes da Morgadinha - que a muitos respeitos, menos na bondade de coração, formava contraste completo com sua prima.

Travara-se animada conversação entre as pessoas presentes, e principalmente entre Henrique, D. Vitória e Madalena.

D. Vitória quis ser informada da doença de Henrique. Este passou a fazer-lhe uma exposição igual, com pequenas variantes, à que fizera à tia.

Mencionou, como a ela, aqueles vagos sintomas, aquelas tristezas, impaciências e desalentos, que tão ingenuamente a boa senhora classificara como mania.

Enquanto Henrique falava, Madalena pôs-se a rir.

Henrique tornou para ela os olhos.

- Ó menina, de que ris tu? - perguntou D. Vitória, com certo tom de severidade.

- Rio-me daquela doença, tia. Pois já viu alguém padecer daquilo? Ora diga?

- Eu?... mas...

- Pode dizer que não. E contudo o primo Henrique não mente.

Há daquelas doenças na cidade, há; mas na aldeia são tão raras, que eu mesma as estranho já, eu que as vi noutro tempo...

- Então não crê na realidade delas?

- Não lhe estou a dizer que sim? Ouço até que já têm levado ao suicídio.





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