Acredito-o. Os hábitos da civilização afeiçoam a seu modo a natureza humana e criam moléstias novas, que, nem por isso, são menos naturais. Mas que quer, primo? A minha estranheza, ao ver um desses doentes em plena aldeia, não é modificada por todas estas considerações. É como um homem de casaca e gravata branca; não há nada mais sério e grave numa sala de baile, mas coloque-mo num monte, e diga se o pode olhar a sério.
- Quer dizer que não devo queixar-me aqui, sob pena de zombarem de mim.
- Tanto não digo; mas não o entenderão; isso não.
- Porém a minha doença não é só dessas que se não dão na aldeia, prima Madalena; eu creio que verdadeiras desordens orgânicas...
- Ah! também? Com esse aspecto de robustez?!...
- Se eu sei o que tu estás aí a dizer, Lena! - disse D. Vitória, que não tinha percebido bem o diálogo.
- É que eu, minha tia, teimei em fazer perder ao primo Henrique todos os maus hábitos de cidade, com que veio para aqui. Sem isso não pode curar-se.
- Sujeitar-me-ei da melhor vontade a tão agradável domínio.
- Principia mal, se principia com uma fineza. Já o avisei há pouco...
- Será necessário tornar-me grosseiro, para me salvar? Nesse caso renuncio à cura.
- Grosseiro, não; basta que seja razoável e sobretudo...
- Acabe.
- Acabo? Eu sei? Eu às vezes sou sincera de mais.
- Eu adoro as sinceridades.
- Já que o quer... É preciso que seja razoável e sobretudo... desafectado.
Henrique de Souselas mordeu ligeiramente os lábios, corando.
- Então acha?...
- Acho que está sempre a imaginar-se num salão; faz uns gastos de galanteria, desnecessários e perdidos.
- Ó meninos, eu não vos entendo! - repetia D. Vitória.
Madalena sorriu.
- Digo eu que... Um criado, entrando com as cartas do correio, não a deixou continuar.