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Capítulo 3: III - Na Águia de Ouro

Página 22

Se é lícito comparar as grandes às pequenas coisas, veremos nestes a imagem de todos os inofensivos cismadores deste mundo, a quem sempre cruelmente vem despertar o embate dos afadigados em empresas positivas.

A animação era geral na cidade.

Todos corriam com ânsia… a enfastiarem-se, fingindo que se divertiam.

Alguma coisa havia também na Águia de Ouro, a anciã das nossas casas de pasto, a velha confidente de quase todos os segredos políticos, particulares e artísticos desta terra; alguma coisa havia nesta modesta casa amarela do Largo da Batalha, que desviava para lá os olhares de quem passava.

Desde as três horas da tarde que o tinir dos cristais e das porcelanas, o estalar das garrafas desarrolhadas, o estrépito das gargalhadas, das vozearias tumultuosas e dos hurras ensurdecedores rompiam, como uma torrente, do acanhado portal daquele bem conhecido edifício; e por muito tempo essa torrente, à maneira do que sucede com a das águas dos rios caudalosos ao desembocarem no mar, conservava-se distinta ainda, através do grande rumor que enchia as ruas.

Os criados subiam e desciam azafamados as escadas, cruzavam-se ou abalroavam-se nos corredores, hesitavam perplexos entre ordens contraditórias, vinham apressar os colegas na cozinha ou entretinham com promessas os impacientes convivas da sala.

No entretanto, o modesto e solitário freguês, a quem uma veleidade estomacal convidara a ir cear a humilde costeleta, principal troféu culinário da casa, era pouco atendido e, farto de esperar, retirava-se sorrateiro e cabisbaixo.

Sob aparências de modéstia, a Águia de Ouro parecia desta vez aureolada de não sei que majestade, condigna do seu emblema.

A luz escassa de um lampião da rua, batendo sobre a ave de Júpiter que coroa a tabuleta do estabelecimento, parecia dar-lhe reflexos mais brilhantes do que os do costume.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 22

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432