As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 121 / 174

- Compro um tambor novo, uma espada verdadeira, uma gravata encarnada e um cachorro. Depois, caso-me.

- Casas-te?

- Pois.

- Oh! Tom, tu... tu não estás bom da cabeça!

- Espera e verás.

- Pois será assim, mas é a coisa mais parva que podes fazer. Vê lá tu o meu pai e a minha mãe. Sempre à bulha! Lembro-me disso perfeitamente.

- Isso não quer dizer nada. A rapariga com quem me vou casar não é pessoa para andar à bulha.

- Também calculo que não são todas iguais, Tom, mas, seja como for, sempre é uma responsabilidade. Pensa bem nisto. Se o digo é para teu governo. Como se chama a rapariga?

- Rapariga não; é uma menina.

- Calculo que é a mesma coisa. Uns dizem rapariga, outros dizem menina, e tantos uns como outros têm razão.

- Hei-de dizer-te um dia, mas hoje não.

- Está bem, está combinado. O pior é que se te casas fico ainda mais só do que até aqui.

- Não ficas, porque vais viver comigo. Mas agora vamos trabalhar. Trabalharam e suaram, sem resultado, durante meia hora. Depois, trabalharam ainda outra meia hora, também sem resultado, até que, por fim, Huck disse:

- Eles enterram sempre o dinheiro num buraco tão fundo?

- Sempre não. Às vezes. No entanto, calculo que tornámos a enganar-nos.

Escolheram então um outro lugar e recomeçaram. Embora devagar, o trabalho lá ia progredindo, e os dois rapazes conservaram-se em silêncio durante algum tempo, mas, em certa altura, Huck encostou-se ao cabo da enxada, enxugou com a manga as gotas de suor da testa e disse:

- Onde vamos nós cavar quando acabarmos aqui?

- Calculo que talvez seja melhor procurarmos junto da árvore grande, lá em cima no monte Cardiff, por detrás da casa da viúva.

- Também me parece que deve ser boa ideia, mas não quererá a viúva tirar-nos o dinheiro, visto o terreno ser dela?

- Tirar-nos o dinheiro? Ela que experimente, a ver o que lhe acontece. Quando alguém acha um tesouro escondido tem direito a ficar com ele, seja de quem for o terreno onde o encontrou.

Satisfeitos com esta conclusão, continuaram a trabalhar, mas, passados momentos, Huck disse:

- Oh diabo! Devemos estar outra vez enganados. Que achas, Tom?

- É curioso, parece-me que já sei porque é. Às vezes as bruxas metem-se no caso e talvez a dificuldade venha daí.

- Olha o disparate! As bruxas não têm poder durante o dia.





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