- Então como havemos de saber debaixo de qual delas é?
- Procurando em todas.
- Oh! Tom, mas isso vai levar o Verão inteiro!
- E que mal faz? Se encontrarmos uma panela de folha com cem dólares lá dentro, ou uma arca cheia de diamantes, que tal te parece?
Os olhos de Huck brilharam.
- Parece-me da primeira ordem! Pelo menos para mim. Dá-me só os cem dólares, que não quero diamantes.
- Está bem. Mas olha que os diamantes também não são para desperdiçar. Há uns que valem vinte dólares, embora outros não valham tanto.
- Palavra? Isso é possível?
- Certamente que é, qualquer pessoa te dirá o mesmo. Nunca viste nenhum, Huck?
- Que me lembre, não.
- Oh! Os reis têm montões deles!
- Eu nunca vi reis, Tom.
- Sim, calculo isso. Mas, se fosses à Europa, havias de vê-los, ali, a saltar.
- Eles saltam?
- Saltam? Palerma! Não.
- Então para que disseste que saltavam?
- Oh!, homem, pois não vês que é uma maneira de dizer? Para que haviam de saltar? Quando disse a saltar queria dizer que havias de ver muitos à tua volta. Tal como esse velho corcunda chamado Ricardo.
- Ricardo quê? Que mais se chama ele?
- Não se chama mais nada. Os reis só têm o nome que lhes dão.
- Sério?
- Sério.
- Se gostam assim, deixá-los lá! Mas eu não gostava de ser rei e ter o nome que me quisessem pôr, exactamente como se fosse um preto. Olha, onde vamos nós cavar agora a seguir?
- Não sei, mas talvez pudéssemos ir à raiz daquela árvore seca, no caminho de Still House. Que te parece?
-Acho bem.
Assim, com uma picareta torcida e uma pá ferrugenta, puseram-se os dois a caminho, dispostos a andarem umas boas três milhas.
Mal chegaram, ofegantes e cheios de calor, atiraram-se para a sombra de um ulmeiro próximo, para descansarem e fumarem um bocado. - Gosto disto - disse Tom.
- Também eu! - concordou Huck.
- Ouve lá, Huck, se achássemos aqui muito dinheiro, que farias tu com o teu quinhão?
- Todos os dias comia empadão e bebia um copo de gasosa; além disso, ia a todos os circos que por aí aparecessem. Ia ter uma rica vida, ai isso ia!
- E não guardavas dinheiro nenhum?
- Guardar dinheiro para quê?
- Para ter com que viver mais tarde.
- Não valia a pena. Qualquer dia aparecia aí o meu pai, deitava-lhe a unha e aquilo era um ar, se eu não o gastasse antes disso. E tu que farias, Tom?