Dentro em pouco, o cansaço começou a fazer-se sentir. A princípio, as crianças não quiseram dar atenção, pois sabiam que era horrível sentarem-se ali numa ocasião em que o tempo era tão precioso e em que andar, fosse para onde fosse, podia finalmente ser proveitoso. Sentarem-se era chamar a morte e facilitar a sua missão.
Mas, por fim, os membros fragéis de Becky recusaram-se a levá-la mais longe, e ela sentou-se. Tom ficou a seu lado e puseram-se a falar da aldeia, dos amigos que lá tinham deixado, das camas confortáveis e, em especial, da luz. Becky chorou e Tom quis lembrar-se de alguma coisa para lhe dar alento, mas tudo o que pudesse dizer-lhe perdera o efeito à força de ser repetido e parecia uma ironia. A fadiga foi aumentando e, por fim, Becky adormeceu. Tom ficou satisfeito. Pôs-se a olhar para a sua cara e, pouco a pouco, viu a expressão acalmar-se-lhe sob a natural influência de sonhos agradáveis, chegando mesmo os lábios a entreabrir-se num sorriso. Havia no seu rostozinho uma tranquilidade que fez com que Tom pensasse nos tempos idos. Em certa altura Becky acordou, com um sorriso alegre, que logo se lhe gelou nos lábios.
- Como pude eu dormir? - disse em voz triste. - Antes nunca tivesse acordado. Não. Não, Tom, não olhes assim para mim, porque não torno a dizer isto.
- Fico contente por teres dormido, Becky. Agora estás mais descansada e podemos ir procurar o caminho.
- Vamos tentar, Tom, mas vi coisas tão bonitas nos meus sonhos, terras tão risonhas, de onde parecem chamar-me, que é naturalmente para onde tenho de ir.
-Talvez não! Talvez não! Ânimo, Becky, e vamos tentar mais uma vez. Levantaram-se e andaram por ali de mãos dadas e com pouca esperança. Quiseram calcular quanto tempo teria passado depois de entrarem para a gruta; parecia-lhes que teriam decorrido dias e semanas, mas sabiam que isso era impossível, porque as velas ainda se não tinham acabado.