As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 31: Capítulo 31 Pág. 154 / 174

Já a manhã de domingo devia ir adiantada, quando Mrs. Thatcher descobrisse que a filha não estava em casa de Mrs. Harper.

Os dois pequenos puseram-se a olhar para o resto da vela; viram-na derreter-se vagarosamente, deixando ficar apenas o pequeno pavio fumarento. Viram elevar-se a chama até ao alto da delgada coluna de fumo, durar aí um momento e extinguir-se mergulhando-os na mais horrível e completa escuridão.

Quanto tempo Becky esteve, meio inconsciente, a chorar nos braços de Tom, nenhum deles o soube. Tudo o que sabiam era apenas que lhes parecia ter decorrido um intervalo imenso quando ambos acordaram daquele torpor para pensarem de novo na tristeza da sua situação. Tom disse que já devia ser domingo ou talvez segunda-feira. Tentou fazer falar Becky, mas a sua desolação oprimia-a de tal modo que nada conseguia distraí-la. Tom afirmou que deviam ter dado por falta deles havia muito tempo e que por certo andavam a procurá-los.

Ia gritar e talvez alguém viesse. Experimentou, mas na escuridão o eco dos seus gritos soava tão lugubremente que desistiu.

AI> horas foram passando e os dois prisioneiros de novo sentiram fome; havia ainda a metade do bolo que era o quinhão de Tom. Repartiram-na e comeram-na, mas, no fim, tinham ainda mais fome, pois a pequena refeição só serviu para lhes despertar o apetite.

Passados momentos, Tom disse: - Não faças barulho. Ouves?

Ambos sustiveram a respiração e escutaram. Distinguia-se como que um grito muito, muito ao longe. Imediatamente Tom respondeu e, pegando na mão de Becky, adiantou-se pelo corredor na direcção em que se sentira o grito, mas agora mais perto.

- São eles! - disse Tom. - Vêm aí. Anda, Becky! Agora tudo há-de correr bem.

A alegria dos prisioneiros era imensa mas, apesar disso, caminhavam devagar, porque sabiam que havia muitos buracos e tinham de se precaver contra esse perigo. Em breve chegaram junto de um que tanto podia ter um como trinta metros de profundidade. Fosse como fosse, não podiam caminhar para além dele.

Tom deitou-se de bruços e estendeu o mais que pôde um braço para dentro da cavidade. Não lhe encontrando o fundo, decidiu que tinham de ficar ali e esperar que os outros viessem ao seu encontro. Escutaram, mas era evidente que os gritos se iam afastando. Passados momentos, deixaram de se ouvir.





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