As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 33: Capítulo 33 Pág. 163 / 174

Pouco depois do meio-dia, os dois rapazes partiram, servindo-se para isso de um barco pertencente a um aldeão que estava ausente. Quando chegaram, umas poucas de milhas abaixo da entrada da gruta, Tom disse:

- Vês aquela escarpa além? Tudo aquilo parece igual. Não há casas, nem bosques, nem arbustos. Mas vês, um pouco mais longe, uma mancha branca num lugar onde houve um desabamento? É um dos meus pontos de referência. É ali que vamos desembarcar.

Assim fizeram.

- No sítio onde estamos, Huck, é fácil chegar com uma vara de pesca ao buraco por onde saí. Vê lá se o encontras.

Huck procurou, mas não o viu. Então, orgulhoso, Tom entrou num maciço de sumagres e disse:

- Aqui está ele. Olha para cá. É o buraco mais escondido da região.

Mas não digas nada. Sempre tive vontade de ser ladrão, mas sabia que precisava de ter uma coisa como esta para onde fugir. Aqui é que estava a dificuldade, mas, agora que já temos um esconderijo, não dizemos nada. Só deixamos cá entrar Joe Harper e Ben Rogers, porque, já se vê, tem de haver urna quadrilha, senão não tem graça nenhuma. A quadrilha de Tom Sawyer: soa bem, não soa, Huck?

- Muito bem, Tom! E quem vamos nós roubar?

- Certas pessoas. Arma-se-lhes uma cilada, que é o melhor sistema.

- E matam-se?

- Não, nem sempre. Escondem-se na gruta, até que nos ofereçam um resgate.

- Que é um resgate?

- Dinheiro. Faz-se com que ofereçam o mais possível; por vezes metem nisso os amigos e, ao fim de um ano de lá estarem, se não oferecerem tanto quanto nós queremos, matamo-los. Assim é que é costume, mas não se matam as mulheres. Prendem-se, mas não se matam. São sempre lindas, ricas e muito medrosas. Tira-se-lhes o relógio e as jóias, mas só se lhes fala de chapéu na mão e com muita delicadeza. Não há ninguém mais delicado que os gatunos. Vê-se isso em todos os livros. As mulheres acabam por gostar de nós e, ao fim de estarem na gruta uma semana ou duas, param de chorar. Por vezes é até impossível fazer com que nos deixem e, ainda que se vão levar a um sítio muito distante dali, voltam sempre para trás. Também vem isto em todos os livros.

- Isso é esplêndido, Tom! Ainda me parece melhor que ser pirata.

- De certo modo é, porque fica perto de casa e pode-se ir aos circos e essas coisas.

Nesta altura já tudo estava em ordem e os dois rapazes entraram no buraco. Tom ia à frente. Seguiram até o fim do túnel e, aí, depois de atarem as guitas dos papagaios a uma saliência, voltaram por outro corredor, que os levou à nascente.





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