As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 22 / 174

O senhor de meia-idade era afinal um personagem prodigioso: nada menos que um dos juízes da província, a mais augusta criação em que aquelas crianças tinham posto os olhos. Maravilhados, perguntavam a si próprios de que matéria seria feito, convencidos de que soltaria rugidos, e quase receando que o fizesse. Era de Constantinopla, a doze milhas dali, por isso tinha viajado e visto mundo. Aqueles mesmos olhos já tinham visto o tribunal da província que, segundo se dizia, tinha o telhado de zinco. O pasmo que estas reflexões inspiravam estava bem patente no silêncio em que os pequenos esbugalhavam os olhos para ele. Aquele homem era o grande juiz Thatcher, irmão do advogado da terra. Jeff Thatcher adiantou-se para se mostrar familiar com o grande homem e despertar inveja aos outros. Com que prazer ouviria os companheiros segredarem:

- Olha para ele, Jim. Vai falar-lhe. Olha! Olha, vai tocar-lhe a mão. Já está a tocar-lhe a mão. Palavra, não gostavas de estar no lugar de Jeff?

Mr. Walters começou a exibir-se em toda a espécie de actividades oficiais, dando ordens, fazendo juízos, dando indicações para um lado e para outro sobre todos os assuntos possíveis. O bibliotecário exibiu-se a correr dum lado para o outro com braçados de livros e fazendo aquela confusão em que o insecto-autoridade se delicia. As senhoras professoras exibiram-se curvando-se ternamente sobre alunos a quem acabavam de esbofetear, ameaçando graciosamente com o dedo os rapazinhos maus e acariciando os bons. Os senhores professores exibiram-se dando pequenas repreensões e fazendo outras demonstrações de autoridade e de amor à disciplina. A maior parte dos professores de ambos os sexos teve que fazer na biblioteca junto do púlpito, por duas ou três vezes, fingindo-se muito contrariados com isso. As rapariguinhas exibiram-se de várias maneiras e os rapazes mostraram-se tão diligentes na exibição que as bolas de papel se cruzavam no ar e se ouvia um murmúrio de rixas. Além de tudo isto, o grande homem, no seu lugar, distribuía sorrisos para todos, muito vaidoso da sua importância e exibindo-se também.

Só faltava uma coisa para a felicidade de Mr. Walters ser completa: era a oportunidade de entregar uma Bíblia como prémio, e mostrar um prodígio. Já tinha andado a perguntar entre os melhores alunos e sabia que alguns possuíam bilhetes amarelos, mas nenhum tinha que chegasse.





Os capítulos deste livro