As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 35 / 174

- Não digo. Nessa noite não pude miar porque a minha tia me vigiava, mas desta vez mio, verás. O que levas aí? - Uma carraça.

- Onde a apanhaste?

-No bosque.

- Quanto queres por ela?

- Sei lá! Não quero vendê-la.

- É muito pequenina.

- Dizes isso porque não é tua. Eu gosto dela e para mim chega.

- Há muitas carraças. Eu se quisesse tinha mais de mil.

- Então por que não tens? Porque sabes muito bem que não podes.

Esta é pequenina, mas é a primeira que vejo este ano.

- Olha, Huck, dou-te o meu dente se me deres a carraça.

- Mostra.

Tom tirou do bolso um bocadinho de papel que desenrolou sob o olhar atento de Huckleberry. A tentação era forte e por fim este disse:

- É verdadeiro?

Tom levantou o beiço e mostrou a falta do dente.

- Está bem! - respondeu Huckleberry. - Aceito o negócio.

Tom meteu a carraça na caixa de charutos, que tinha servido de prisão à carocha, e os dois rapazes separaram-se considerando-se ambos mais ricos do que antes.

Quando Tom chegou à escola, entrou rapidamente, como se tivesse vindo sempre apressado. Pendurou o chapéu no cabide e sentou-se. O professor, que na sua cadeira alta dormitava embalado pelo murmúrio sonolento que os rapazes faziam a estudar, acordou.

- Tomás Sawyer!

Tom sabia que, quando o seu nome era dito por inteiro, as coisas não iam bem.

- Senhor.

- Vem cá. Como de costume, chegaste tarde à escola.

Tom ia desculpar-se com uma mentira, quando reparou em duas tranças de cabelo loiro que reconheceu imediatamente.

Junto da dona das tranças estava o único lugar vago do lado das raparigas. Tanto bastou para que dissesse distintamente:

- Demorei-me a falar com Huckleberry Finn!

O professor calou-se a olhá-lo surpreendido. O sussurro do estudo interrompeu-se e os outros rapazes perguntaram a si próprios se Tom teria perdido o juízo.

- Que dizes tu?

- Parei a falar com o Huckleberry Finn.

Não podia haver confusão.

- Tomás Sawyer, essa é a mais espantosa confissão que tenho ouvido, e já não chega a palmatória para castigar o que fizeste. Despe o casaco.

E o braço do professor bateu até se cansar.

Então as chibatadas diminuíram de intensidade, e seguiu-se esta ordem:

- Vai sentar-te ao pé das raparigas e vê se tens juízo.

O rapaz pareceu envergonhado dos risos dos outros, mas na verdade o que lhe dava aquele ar tímido era a sua adoração pelo ídolo desconhecido e o prazer que lhe causava ir sentar-se no mesmo banco.





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