As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 94 / 174

Os rapazes mais pequenos do que ele juntavam-se à sua volta, tão orgulhosos de que os vissem com ele e tolerados, como se Tom fosse o tambor à frente da procissão ou o elefante que conduz o circo à cidade. Os rapazes do seu tamanho fingiam ignorar que estivera longe, mas estavam cheios de inveja. Dariam tudo de boa vontade para terem aquela pele negra e tostada pelo sol e a sua brilhante notoriedade. Tom não sacrificaria estas coisas nem por um circo!

Na escola, as crianças fizeram tanto barulho à volta dele e de Joe, e mostraram tão grande admiração no seu olhar que, em breve, os dois heróis se tornaram intoleráveis de vaidade. Começaram a contar as suas aventuras a ouvintes ansiosos, mas só as começavam, porque, com imaginações tão férteis como as suas, nunca chegavam ao fim; quando em certa altura tiraram do bolso os cachimbos e começaram a fumar, atingiram de facto o auge da glória.

Tom decidiu que podia tornar-se independente de Becky Thatcher, agora que a celebridade lhe bastava e que podia viver para ela. Talvez que Becky, vendo que ele se distinguira, pensasse em fazer as pazes, mas havia de ver que sabia mostrar-se tão indiferente como os outros.

Ela chegou momentos depois e Tom, fingindo não a ver, afastou-se e foi juntar-se a um grupo de rapazes e raparigas, com os quais começou a conversar. Daí a pouco viu que andava de roda dele, corada e de olhos brilhantes, fingindo correr atrás de outras crianças e rindo muito alto sempre que agarrava alguma; não lhe passou despercebido que o fazia sempre perto dele e olhava para ver se tinha dado por isso.

Estes movimentos lisonjeavam a sua vaidade, mas, em lugar de se dar por vencido, Tom mostrou-se ainda mais orgulhoso e fez a diligência por não mostrar que tinha reparado nela. Em breve Becky deixou aquela brincadeira para passear junto dele, devagar, suspirando e deitando a Tom olhares furtivos. Reparou então que Tom conversava em especial com Amy Lawrence e sentiu-se perturbada.

Tentou afastar-se, mas os pés atraiçoaram-na e levaram-na precisamente para o lado do grupo.

Dirigiu-se a uma rapariga que estava ao lado de Tom e disse-lhe, com vivacidade mal disfarçada:

- Foste muito má, Mary Austin! Por que não foste no domingo à escola de doutrina?

- Fui, fui, sim! Não me viste?

- Como pode ser isso? Em que lugar estiveste?





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