As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 95 / 174

- Na aula de Miss Peters, como sempre. Eu vi-te.

- Viste-me? Tem graça, que não te vi. Queria falar-te do piquenique.

- Que bom! Quem vai dar um piquenique?

- É a minha mãe que está a organizar um para mim.

- Ainda bem! E ela deixa-me ir?

- Com certeza que deixa. O piquenique é para mim e podem lá ir todas as pessoas que eu quiser. Como quero que vás... - Vai ser tão engraçado! Quando é?

- Daqui a pouco. Talvez nas férias.

- Vamo-nos divertir muito. Vão todos os rapazes e raparigas?

- Todos que forem meus amigos ou que o queiram ser! - respondeu relanceando um olhar para Tom, que conversava com Amy Lawrence contando-lhe a terrível tempestade na ilha, e como uma faísca tinha «reduzido a cinzas» o grande sicômoro, «estando ele a um metro de distância».

- Posso ir? - perguntou Gracie Miller.

- Podes.

- E eu? - inquiriu Sally Rogers.

- Também.

- E eu? - quis saber Susy Harper. - E Joe?

- Também.

Assim continuaram, com um bater de palmas alegre, até que todo o grupo pediu para ser convidado, menos Tom e Amy.

Então Tom voltou-se friamente, e, não parando de conversar, afastou -se, acompanhado por Amy. Os lábios de Becky tremeram e as lágrimas chegaram-lhe aos olhos; disfarçou isto falando com uma alegria forçada, mas o encanto do piquenique e de tudo mais desaparecera. Logo que pôde, afastou-se e escondeu-se para se entregar àquilo a que o sexo fraco chama «uma crise de nervos». Em seguida, sentou-se com ar de orgulho ofendido, até que tocou o sino. Levantou-se então com um olhar vingativo, e sacudiu as tranças, dizendo para consigo que já sabia o que havia de fazer.

Por seu lado, Tom, satisfeitíssimo, seguia no seu namoro com Amy, passeando de um lado para o outro, para que Becky o visse e sofresse. Observando-a, sentiu porém que a sua alegria desaparecia. A rapariga estava sentada confortavelmente num banco por trás da escola, a ver um livro de estampas com Alfred Temple. Estavam tão absortos e com as cabeças tão próximas por sobre o livro, que pareciam não dar pelo que se passava em volta. O ciúme fez ferver o sangue nas veias de Tom, que se odiou a si mesmo por ter desprezado a ocasião que Becky lhe proporcionara de se reconciliarem. Chamou-se a si mesmo maluco e todos os nomes feios de que se lembrou. Estava tão arreliado que tinha vontade de chorar. Radiante e feliz, Amy continuava a conversar enquanto passeavam, mas a língua de Tom não se movia.





Os capítulos deste livro