A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 8: VIII Pág. 118 / 508

Deus lhe pague o favor que me faz e permita que eu lhe não peça muitos destes. E eu tenho esperanças... Sabe que ando com ideias de arranjar o lugar de recebedor, que está, como diz o outro, a encher dias? Já falei ao conselheiro; mas o conselheiro promete muito e falta melhor, sobretudo a um homem que não tenha influência em eleições. O Sr. Joãozinho das Perdizes interessa-se por mim, é verdade; mas, por outro lado, o Seabra brasileiro faz-me guerra. Eu ando a ver se consigo pôr o Seabra a meu favor, porque enfim... Mas vá, vá jantar, que eu espero.

- Se quiser fazer-me companhia...

- Muito obrigado. Eu já jantei. O meio-dia é a minha hora. Jante à sua vontade.

Augusto saiu da sala. Mestre Bento Pertunhas, ficando só, deu algumas voltas cantarolando, sentou-se depois, e, pegando na pasta de Augusto, pôs-se a examinar os papéis que ela continha.

Ao mesmo tempo simulava umas variações de trompa, à força de contracções e esgares dos lábios.

A pasta, vítima da indiscrição do mestre, era a mesma que Augusto trazia quando o vimos no Mosteiro.

Entre os documentos contidos nela algum achou o Mestre Pertunhas mais curioso do que as escritas e temas dos discípulos, pois, ao vê-lo, desenhou-se-lhe no semblante a mais intensa curiosidade e cessou de todo a exibição acústica, que com tanto ardor encetara.

Leu-o até o fim com crescente avidez; e, depois, olhando em volta de si, para verificar que não era observado, dobrou-o e sorrateiramente o escondeu no bolso. Fechou outra vez a pasta, poisou-a no sítio donde a tirara, continuou a ler ou a fingir que lia com toda a atenção um livro e encetou novas variações de trompa.

- Então já! Apre! Isso é jantar a vapor - disse o latinista, pondo-se a pé, logo que Augusto voltou.





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