- Se quiser fazer-me companhia...
- Muito obrigado. Eu já jantei. O meio-dia é a minha hora. Jante à sua vontade.
Augusto saiu da sala. Mestre Bento Pertunhas, ficando só, deu algumas voltas cantarolando, sentou-se depois, e, pegando na pasta de Augusto, pôs-se a examinar os papéis que ela continha.
Ao mesmo tempo simulava umas variações de trompa, à força de contracções e esgares dos lábios.
A pasta, vítima da indiscrição do mestre, era a mesma que Augusto trazia quando o vimos no Mosteiro.
Entre os documentos contidos nela algum achou o Mestre Pertunhas mais curioso do que as escritas e temas dos discípulos, pois, ao vê-lo, desenhou-se-lhe no semblante a mais intensa curiosidade e cessou de todo a exibição acústica, que com tanto ardor encetara.
Leu-o até o fim com crescente avidez; e, depois, olhando em volta de si, para verificar que não era observado, dobrou-o e sorrateiramente o escondeu no bolso. Fechou outra vez a pasta, poisou-a no sítio donde a tirara, continuou a ler ou a fingir que lia com toda a atenção um livro e encetou novas variações de trompa.
- Então já! Apre! Isso é jantar a vapor - disse o latinista, pondo-se a pé, logo que Augusto voltou.