Com todas estas qualidades, era o Sr. Joãozinho das Perdizes um homem verdadeiramente popular entre os da sua freguesia; movia-os no sentido que quisesse.
Tudo por lá era o Sr. Joãozinho; não havia função, rixa, solenidade oficial, para que ele não fosse consultado. É que a superioridade do morgado das Perdizes não era daquelas que intimidam e acanham o povo; ninguém hesitava em falar-lhe e em procurá-lo em casa, porque, falando e vivendo com eles, o Sr. Joãozinho não constrangia ninguém. Os seus defeitos, a sua vida de feiras e de tavernas eram outras tantas causas a popularizá-lo; justo é porém que se diga que algumas boas qualidades também para isso concorriam.
O Sr. Joãozinho não era avarento, nem soberbo. Sentado a beber, e com dinheiro no bolso, não consentia que pessoa alguma, desde o mais rico proprietário até o jornaleiro mais miserável, recusasse tomar assento a seu lado. Não eram poucos os filhos- -famílias que resgatara de soldado, sem a menor caução ou interesse, chegando a ficar empenhado para os livrar; e, se algum desgraçado se via perseguido pela justiça, encontrava, fosse qual fosse a enormidade do crime, asilo seguro na herdade das Perdizes, que em certas épocas era um perfeito valhacouto de malfeitores.
Graças, pois, a estas e análogas qualidades, era o Sr. Joãozinho uma verdadeira potência eleitoral.
Eis aí o homem moralmente.
Pelo lado físico, suponham um sujeito de trinta e cinco anos, gordo, vermelho, de longas e encaracoladas melenas em desordem, bigode aparado e a barba quase sempre mal feita ou por fazer.