A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 11: XI Pág. 162 / 508

Em todas as tavernas das freguesias vizinhas tinha contas em aberto, o que não obstava a que entrasse em todas com ares de conquistador e expendesse ali as suas opiniões absolutas, com grande exibição de berros e de punhadas.

Com todas estas qualidades, era o Sr. Joãozinho das Perdizes um homem verdadeiramente popular entre os da sua freguesia; movia-os no sentido que quisesse.

Tudo por lá era o Sr. Joãozinho; não havia função, rixa, solenidade oficial, para que ele não fosse consultado. É que a superioridade do morgado das Perdizes não era daquelas que intimidam e acanham o povo; ninguém hesitava em falar-lhe e em procurá-lo em casa, porque, falando e vivendo com eles, o Sr. Joãozinho não constrangia ninguém. Os seus defeitos, a sua vida de feiras e de tavernas eram outras tantas causas a popularizá-lo; justo é porém que se diga que algumas boas qualidades também para isso concorriam.

O Sr. Joãozinho não era avarento, nem soberbo. Sentado a beber, e com dinheiro no bolso, não consentia que pessoa alguma, desde o mais rico proprietário até o jornaleiro mais miserável, recusasse tomar assento a seu lado. Não eram poucos os filhos- -famílias que resgatara de soldado, sem a menor caução ou interesse, chegando a ficar empenhado para os livrar; e, se algum desgraçado se via perseguido pela justiça, encontrava, fosse qual fosse a enormidade do crime, asilo seguro na herdade das Perdizes, que em certas épocas era um perfeito valhacouto de malfeitores.

Graças, pois, a estas e análogas qualidades, era o Sr. Joãozinho uma verdadeira potência eleitoral.

Eis aí o homem moralmente.

Pelo lado físico, suponham um sujeito de trinta e cinco anos, gordo, vermelho, de longas e encaracoladas melenas em desordem, bigode aparado e a barba quase sempre mal feita ou por fazer.





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