Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: XI

Página 163
Na maneira de vestir inculcava os hábitos da vida e um certo desleixo com sua pessoa, que lhe era peculiar. Trazia o colete quase sempre desapertado e com alguns botões a menos, de modo que os peitos da camisa formavam hérnia pela abertura; entre as calças descaídas e o colete avistava-se o cós das ceroulas, no qual era jeito muito seu o enfiar a mão; ao pescoço trazia um lenço de seda escarlate, negligentemente atado e com longas pontas flutuantes; uma jaqueta de peles com alamares, calças de fazenda chamada pele-do-diabo, botas de montar e esporas constituíam o resto do vestuário. O cigarro, que quase sempre fumava até às últimas, crestara-lhe profundamente as pontas dos dedos e o canto dos lábios. O palito andava-lhe sempre atrás da orelha; a navalha de ponta na algibeira, e, para qualquer parte que ia, acompanhava-o uma tumultuosa matilha de galgos, podengos e perdigueiros.

Segunda e não menos importante personalidade era a do Sr. Eusébio Seabra, chamado por antonomásia - o Brasileiro.

Era um homem de cinquenta anos; bem figurado e sisudo, de falar compassado e com os seus quês de oráculo, frases sentenciosas e ares de protecção a todo o mundo.

Saíra criança da aldeia e fora tentar a fortuna ao Brasil. Por lá esteve quarenta anos, e voltou o homem grave que vemos e rico. O como enriqueceu não sei, e ninguém da terra o sabia. Veio edificar uma casa no sítio em que nascera, uma casa grande de cantaria e azulejo, com três andares e varandas, jardim com estátuas de louça e alegretes pintados de verde e amarelo, o qual jardim tinha mais fama, naquelas aldeias vizinhas, do que os jardins suspensos da Babilónia. Trouxera um papagaio e uma arara, igualmente famosos, e uma botica homeopática, que ele próprio manipulava.

As ambições de Eusébio Seabra limitavam-se a vir a ser a primeira personagem de influência na aldeia.

<< Página Anterior

pág. 163 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 163

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506