A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 11: XI Pág. 174 / 508

Já atrás dissemos que o conselheiro era actualmente um espírito pouco apaixonado do ideal, respirava a atmosfera de desilusão e de cepticismo, em que nas grandes cidades se vive. Era um perfeito homem de corte: tratava cordialmente os seus adversários políticos, pedindo deles mercês e empregos para afilhados; fulminava- os às vezes da tribuna e depois apertava-lhes a mão nos corredores das Câmaras e nas praças. Se o julgava vantajoso, pronunciava ainda uma daquelas frases sonoras, uma daquelas simpáticas divisas de política avançada, que no princípio da sua carreira adoptara com sinceridade; mas não tinha já aos princípios o amor preciso para cair, abraçado neles, dos degraus do poder, se algum dia os chegasse a subir.

Por isso os soldados rasos de seu partido, os políticos em abstracto, únicos para quem a política é sempre ideal e lógica, o tachavam de froixo e tíbio; e de gazeta na mão havia muito que lhe ditavam, do obscuro canto do país em que viviam, a estrada direita, de que ele, porém, a cada passo se desviava.

Apesar disso, o partido conservador e o reaccionário, julgando-o por os seus primeiros discursos, continuavam de boa ou má fé, a acoimá-lo de ímpio, de republicano e de pedreiro-livre.

O Brasileiro entrou em dissertação a respeito de todas as medidas políticas a que se aludira.

Segundo o costume, ninguém o entendeu.

Ia ele no mais enredado da sua meada oratória, quando o som de um tropear de cavalos o interrompeu. Mestre Bento, que fora espreitar à porta, voltou-se, exclamando:

- Ele aí vem! Aí vem o conselheiro! Todos se levantaram pressurosos para correrem à porta. O que mais de má vontade o fez foi ainda assim o Brasileiro.

Dentro em pouco todos se descobriam. Parava à porta o conselheiro, que montava um soberbo cavalo branco, e ao lado dele Ângelo, num pequeno baio de formas elegantes e olhar vivo.





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