Nos quartos próximos palravam, ainda acordados, os mais velhos, apesar das continuadas advertências da prima.
Ângelo aproximou-se sem ruído, e, quando a Morgadinha se abaixava para beijar a criança, ele estendeu a cabeça e pousou também um beijo nas faces da irmã.
Madalena soltou uma exclamação de surpresa e cingiu-o nos braços com efusão.
A criança levantou um brado, que foi o sinal de revolta dado a Mariana e Eduardo, que cedo abandonaram os quartos e correram a abraçar Ângelo.
- Vens só? - perguntou Madalena ao irmão, quando uma pergunta lhe foi possível.
- O pai ficou na loja do Canada - respondeu Ângelo. - Estava em sessão a assembleia dos notáveis. E como estás tu, minha Lena, tu e Criste e a tia? Como vai toda esta gente?
- Anda tu mesmo sabê-lo.
- Eu vou dizer à mamã - disse Mariana, saindo aos saltos.
Eu vou chamar Criste - disse Eduardo, imitando-a.
E saíram ambos, pregoando a chegada do primo.
O pequeno, que Madalena deitara, pedia, chorando, para se tornar a levantar, requerimento que a rogos de Ângelo, foi deferido.
- Diz-me - continuava no entretanto este para a irmã: - tens-te enfastiado muito, aqui só?
- Não, tenho-me divertido até.
- Deveras? E que fazes? Em que passas o tempo?
- Eu sei? O tempo é que passa, sem eu dar por isso. Leio pouco, passeio muito, trabalho mais.
- Que tens lido?
- Quase sempre relido.
- O quê?
- Nem eu sei já. O primeiro livro em que pouso a mão, quando os vejo sobre a mesa.
- O Augusto tem vindo ensinar os pequenos?
- Todos os dias.
- E o Tio Vicente? Que me dizes dele?
- Vai bom. Caiu no outro dia à levada da raiz do monte; valeu- -lhe o Augusto para o salvar.
- Sim? Pobre homem! Olha naquela idade! E a tia Doroteia?
- Tem de hóspede um sobrinho de Lisboa, um Henrique de Souselas; conheces?
- Eu não.