A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 189 / 508

Demandista por gosto e ofício, levava a sua paixão pela arte a ponto de comprar as demandas dos outros, só por gosto de as tratar; espécie vulgar no Minho, onde uma legislação especialíssima, reguladora da propriedade rural, fomenta estas disposições no espírito dos campónios, das quais os juízes são as miserandas vítimas.

Depois de grande exibição de cortesias, para a direita e para a esquerda, o Tapadas dirigiu-se ao conselheiro, que o fez sentar ao seu lado, concedendo-lhe todas as provas de deferência e amizade.

O homem, que tão judiciosa dissertação acabava de fazer sobre a política abstracta, sentiu, na presença do recém-chegado, que de novo o abandonava o espírito da utopia e principiou a tratar com ele política prática, sob a feição mais mexeriqueira que ela pode revestir.

Tratou-se dos pequeninos processos de preparar candidaturas, por força ou vontade dos representados.

Henrique deixou-os na conferência e foi sentar-se ao pé das senhoras, no grupo formado por Madalena, Cristina e Ângelo.

Escuso de referir o diálogo em que tomaram parte estes interlocutores; reproduziram-se nele os galanteios de Henrique a Madalena, a leve ironia desta e as respostas tímidas e silenciosos despeitos de Cristina.

D. Vitória e D. Doroteia entremeteram-se, dentro em pouco, na conversa, e, desviando-lhe o curso, fizeram-na cair sobre o assunto das próximas consoadas.

Passado tempo, ouviu-se o conselheiro dizer, elevando a voz, para o Tapadas:

- Pois, meu caro Tapadas, que tenha paciência este bom povo. Com isso é que eu não transijo. Ninguém é mais condescendente do que eu, menos no que pode arriscar a vida de muitos e entre essas as dos que me pertencem. O abuso há-de acabar. Por estes dias deve chegar uma portaria, mandando expressamente cumprir a lei.





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