A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 12: XII Pág. 190 / 508

Consegui isso do governo. O cemitério fez-se. Eu fui o primeiro a dar o exemplo, levantando ali o sepulcro para a minha família. Depois disso, graças a um preconceito tolo, à má-fé de alguns padres, à frouxidão das autoridades e talvez a alguma incúria minha, ainda ninguém mais se enterrou ali. No entretanto quase todos os estios se repetem os casos dessas febres que a ciência atribui em grande parte aos miasmas da igreja, onde a extrema devoção deste povo acumula em certos dias, durante horas e horas, uma extraordinária quantidade de fiéis. Portanto, com isso não transijo. Hei-de acabar com o abuso.

- Pois sim... mas agora na ocasião das eleições... Sr. Conselheiro, não sei se faz bem.

- Para compensação trataremos de apressar o princípio das estradas: também o pude conseguir.

- Inda assim... Receio alguns motins.

- Reprimem-se.

- O pior é que há-de haver quem lance mão dessa arma contra nós.

- Quem?

- Ora! não falta quem. Basta o missionário, que já pregou contra isso.

- Não tenha medo. Quando muito, algum motinzito sem consequências. Leve-os por bem. E, se for preciso, fale ao ouvido desse tal missionário... O homem que quer? Provavelmente alguma abadia? Algum canonicato? É preciso ver isso.

- Ele diz que não quer nada.

- Bem sei, todos dizem o mesmo - disse o conselheiro, com a sua descrença de homem político.

Tapadas retirou-se mal assombrado. De facto a opinião pública era, por toda a aldeia, em extremo adversa aos cemitérios, e ele mesmo não estava de todo limpo do preconceito geral, mas a sua afeição ao conselheiro obrigava-o a digerir a disposição legal, conforme podia.

Depois de ele se retirar, o conselheiro disse, erguendo-se:

- Vem em má ocasião a medida, vem; é arrojada para as épocas eleitorais; se houvesse um chefe hábil que a aproveitasse, podia.





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