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Capítulo 13: XIII

Página 194

Ângelo segurou-lhe a mão.

- Que estavas a ler, Linda?

- Não é nada...

- Deixa ver.

- Não deixo.

- Porque não deixas?

- Para não ser curioso. Que modos são esses de andar a escutar a gente?

- Pois sim, sim; mas deixa-me ver os versos.

- Não são versos. Quem lhe disse que eram versos?

- Pois não ouvi? Que era isso de tirano e de Egipto, que dizias?

- Que há-de ser? - disse afinal Ermelinda, dando-lhe o papel.

- São os versos do auto dos Reis. Sabe agora?

- Do auto dos Reis? Ai, sim; está a chegar o dia! Mas que tens tu com o auto dos Reis?

- É que este ano meu pai quer que eu seja a Fama.

- Viva! E que bonita Fama que vais ser! E já sabes os versos?

- Estava a decorá-los.

- Tenho mil línguas, mil bocas... - dizia Ângelo, lendo no princípio. - O que é pena é pôr uma chochice destas na boca de uma Fama como tu.

- Que está a dizer? Então os versos não são bonitos?

- Oh! Pois não são! - exclamou Ângelo, gracejando. - São uma perfeição! E, tendo-os corrido com a vista, principiou a lê-los com acentuação e ênfase comicamente exageradas.

- Ora ouve lá:


Sabei que aquele Herodes,
Lobo cruel carniceiro,
Tremendo de inveja pura
Lhe venham tirar o reino...

- Então que há que dizer a isto? - E prosseguiu:


Feria raios de fogo
De seus olhos com mudança;
E só pretende fazer
Alvo de sua vingança.

- Isto é claro e sublime!

- Lendo assim, pudera! - disse Ermelinda, rindo.

É preciso que advirta o leitor que estas quadras e o auto, a que nos estamos referindo, não são obra da nossa imaginação. Por aí corre manuscrito o auto, mais ou menos extravagantemente ortografado, segundo o sistema ou o capricho do copista. Em quase todas as aldeias dos arredores do Porto podem ver em cada ano representado este ou outro análogo, com aplauso e glória da arte.

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pág. 194 (Capítulo 13)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 194

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506