A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 13: XIII Pág. 199 / 508

Ângelo fez a narração dos episódios da sua vida de colégio; das dificuldades e das belezas dos seus estudos naquele ano. Augusto, que da aldeia com ele os seguia, passo a passo, interrogava-o sobre algumas dúvidas que tinha, e esclarecia às vezes também, graças à sua poderosa penetração e natural lucidez, as que o ensino do colégio havia deixado no espírito do seu antigo discípulo.

A Geografia e a História, que eram as disciplinas estudadas naquele ano por Ângelo, deram assunto a grande parte deste diálogo.

Augusto inclinara-se aos estudos históricos, inclinação em que o ervanário o entretinha com frequentes presentes de livros daquele género.

Em exame de livros novos, referências a outros lidos, e leituras de alguns mais apreciados, passaram os dois grande parte da manhã, até que por fim Ângelo disse a Augusto:

- Ah! é verdade! Tenho um favor a pedir-lhe.

- Qual é?

- Sabe que está para breve o dia dos Reis?

- Sim.

- E portanto o auto com que o povo daqui o festeja; aquele auto em que Herodes faz tremer meio mundo?

- Bem sei - respondeu Augusto sorrindo.

- Este ano teremos a Linda a fazer de Fama. Fama bonita, por certo; mas se soubesse os versos que lhe deram para recitar! E Ângelo reproduziu, como pôde, as quadras do monólogo da Fama no auto dos Reis.

De quando em quando passava um sorriso pelos lábios de Augusto.

- Eu já conhecia isso. É o costume - disse ele por fim.

- Mas não lhe parece que de uma Fama como aquela se devia esperar melhor do que isto?

- E então o que quer que eu lhe faça?

- Outros para o lugar destes.

- Outros!... Eu?... - perguntou Augusto.

- Porque não?

- Que lembrança!

- Não me venha negar que os faz.

- Versos?

- Sim.

- Quer dizer que os leio.





Os capítulos deste livro